Vergonha (falta de)
Não tem a ver com o partido. Lembro-me de há uns vinte e tal anos António Vitorino ter apresentado a demissão do Governo de que fazia parte por causa de irregularidades com o pagamento de um imposto, penso que a sisa. Custou-lhe na altura o fim da ascensão política, que prometia muito, mas a exigência ética impôs essa saída. Hoje situação semelhante seria facilmente resolvida com um assobiar para lado, “um fait-divers quando o país tem assuntos tão importantes para resolver”, ou, se o caso não fosse abafado às primeiras, um contrito reconhecimento da “distracção que aconteceu mas será rapidamente corrigida”. E a coisa passaria. E não aconteceria nada. Não, não tem a ver com o partido. Tem a ver com a falta de vergonha desta geração que dirige o PS. A geração de José Sócrates, lembre-se. A geração de Carlos César. Faz-se o que se quer. À descarada. Sem preocupações com as minudências éticas que só atrapalham. A mesma falta de vergonha que infecta a comunicação social estabelecida que só agora, quando o escândalo já não pode ser abafado, sobretudo porque saltou para os jornais estrangeiros, vem anunciar como novidade o que era facilmente verificável há muito tempo. Sim, não tem nada a ver com política ou partidos. É simplesmente total falta de vergonha.