Há menos de um ano escrevia eu aqui que julgava “que as propostas de Rui Tavares não serão acolhidas pela Assembleia da República. Mas a verdade é que os intolerantes estão cada vez mais afoitos, e tantas vezes o barro é mandado à parede que corre o risco de agarrar”. Em causa estava um projeto-lei que visava proibir e criminalizar terapias de conversão sexual (se tiverem paciência podem ler o post aqui). Obviamente, o meu otimismo foi atropelado pela realidade e na passada semana o projeto de Rui Tavares, e outros similares, foram aprovados na Assembleia da República. Em breve, quando a lei for publicada, “quem praticar, promover ou publicitar quaisquer práticas ou tratamentos que visem a repressão ou modificação da orientação sexual” ficará sujeito a sanções, que podem ir até à prisão efetiva. É caso para dizer que a intolerância já não está perto, ela está instalada. E quem não seguir a doutrina oficial será, como é regra nas ditaduras, castigado.
Os andorinhões (apus apus) já chegaram. Ouviu-os domingo à tarde, na varanda, e hoje desafiei a mais nova a irmos procurá-los na zona antiga da cidade. E lá estavam eles, inconfundiveis no seu voo rápido, nervoso e sem descanso. Chegam com a Primavera, vão-se com o Outono, cumprindo o ciclo de sempre. Voltaram. Sejam bem-vindos.
A maior carga fiscal de sempre. O Estado obeso, cada vez mais obeso, precisa de ser alimentado. Por isso, somos forçados a partilhar com ele, em fatias bem generosas, o resultado do nosso esforço. Ou, se calhar, sou eu que estou a ver mal as coisas. Porque no socialismo o dinheiro é do Estado. Todo o dinheiro. Então, em vez de me queixar, talvez deva, antes, estar grato ao Governo por nos deixar ficar com um pouco daquilo que angariamos com o nosso trabalho. Sim, já faltou mais para agradecermos por não nos tirarem tudo.
A maior dívida pública de sempre. Os meus filhos e os meus netos amarrados a um encargo que irá sufocar a sua vontade de melhorar – qualquer “tempo de vacas gordas” servirá, primeiro que tudo, para abater nos encargos da dívida. Porque nos condenaram assim? irão perguntar eles. Não foi por inaptidão ou por prosaico azar, não. Foi deliberado. A dívida serviu para comprar votos, para ir mantendo o partido no poder. “Quem vier depois que feche a porta”, pensaram, e, quais Pilatos, lavaram as mãos.
Vinte anos de carreira publica, lidando com dinheiro, respondendo diariamente a dezenas de procedimentos (e quantos deles kafkianos…), atendendo pessoas, e no final do mês levar para casa dez euros mais do que a empregada de limpeza recém-contratada.
A indignidade da mão estendida, sempre a mão estendida à esmola, como a grande estratégia nacional de progresso. A arte de pedinchar (na Europa) como virtude maior da governação.
O recém-licenciado, sem notas de relevo, é contratado pelo Estado por três ou quatro mil euros/mês, enquanto o doutorado vai pedinchando bolsas paupérrimas e o jovem brilhante e diligente sujeita-se a pouco mais do que o ordenado mínimo. O primeiro tem cartão do partido, os outros não.