A Dica das Quartas (X)
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Números, ouvidos aqui e ali (de fontes credíveis), no arranque de mais uma campanha eleitoral:
15% das famílias pagam 80% dos impostos;
60% dos cidadãos dependem economicamente dos Estado – pensionistas, funcionários públicos e beneficiários de subsídios vários;
Um trabalhador na casa dos 30 receberá 40% do último salário quando se reformar;
30 a 40% do preço de uma casa nova são impostos;
Os senhorios pagam em impostos quase um terço do valor da renda que recebem.
Maus-tratos graves a um bebé durante dois meses, que o levam, com “prognóstico reservado” a vários períodos de internamento hospitalar e a danos irreversíveis que exigirão “terapêutica farmacologia crónica com antiepiléticos”, valem cinco anos de pena suspensa (aqui).
Maus-tratos a quase duas dezenas de galgos, privando-os, durante dois meses, “de acesso a água e a comida em quantidade suficiente, bem como de alojamento limpo, de quaisquer cuidados de saúde e higiene, vacinação e desparasitação, mantendo-os em situação de desconforto permanente, sede, fome e sofrimento”, valem quatro anos e oito meses de pena suspensa (aqui ).
Portugal tem um problema com a imigração. Não sei se é muita, se é pouca, se vem do país A e devia vir do país B, não é sobre isso que falo. O problema de Portugal com a imigração é que ela está completamente descontrolada. Entra quem quer, fica quem quer, sem que haja fiscalização por parte das autoridades competentes, sem que exista uma estratégia do Governo para enquadrar a imigrantes. Qualquer organização que se demita das suas funções planeadora e fiscalizadora acaba, mais cedo ou mais tarde, por ter problemas graves. E o Estado português tem-se demitido das suas responsabilidades para com os portugueses e para com os imigrantes. Não vai correr bem.
O insuspeito Canadá (país de imigrantes e bastante “liberal”, no sentido norte-americano do termo) é a prova do que escrevi acima. Segundo uma notícia de hoje, “o Canadá vai limitar as entradas de imigrantes (…) para reduzir o impacto dos recém-chegados no mercado imobiliário, no sistema de Saúde e outras infraestruturas”. Diz o Ministro da Imigração do Canadá que “temos que estudar os impactos microeconómicos da imigração” (aqui).
Conseguirão os nossos governantes pelo menos aprender com os erros dos outros?
O Presidente Joe Biden deu o dito por não dito e aprovou a construção de mais um troço do muro na fronteira com o México, no momento em que a crise migratória, que ele ía resolver, está pior do que nunca. Há uns anos, com outro residente na Casa Branca, a notícia estaria entre as primeiras dos telejornais e das edições online. Agora, tem que ser este modesto blog a fazer serviço público. Sim, há coisas piores, eu concordo, mas também há um patamar mínimo de respeito pela memória - não nos tratem como se não a tivessemos.
(Da dupla Leão Perplexo+Leal)
Entretanto, a realidade aqui.
Não sou espetador frequente, mas esta semana vi. E posso dizer que valeu a pena. O “Isto é Gozar com Quem Trabalha” do passado domingo é, mais do que um programa de humor, um documentário (histórico, digo eu, pensando no olhar das gerações futuras) sobre o Portugal da segunda década do século XXI. Neste caso, o Portugal político. Por isso, recomento, e deixo a pergunta que fiz a mim mesmo: como chegámos até aqui?
Primeiro, António Costa, que perante a crescente preocupação dos eleitores com as dificuldades dos jovens, designadamente no acesso à habitação e nos baixos salários pagos em troca de altas qualificações, perante esta preocupação, o primeiro-ministro saca da cartola… bilhetes de comboio e pernoitas nas Pousadas da Juventude. Espanto? Não. Apenas Costa a ser Costa: o populismo sem pudor; a incapacidade de governar, de planear, de coordenar políticas a favor do bem comum, e, em vez disso, o desenrasca, os remendos avulsos, por mais ridículos que sejam, com o objetivo único de ir mantendo o poder. A verdade é que a estratégia tem resultado para António e Costa, e para o PS, mas para o país, e é isto que me importa, tem sido trágica.
Depois, Isaltino Morais, o autarca condenado por corrupção e reeleito pelos munícipes. À revelação dos almoços extravagantes (porque pagos pelos dinheiros públicos, se fosse do bolso dele o alarido não fazia sentido), à revelação dessas contas chorudas, responde como um cacique, como um coronel do sertão de Jorge Amado: “Ai é, acham mal e criticam-me na cara?! Então vou continuar a fazer, e ainda vou fazer pior!”
A nomeação dos restaurantes do concelho, um a um e com notas encomiásticas, fizeram-me lembrar os discursos do ditador Fidel. O silêncio, cringe (como hoje se diz) em alguns rostos, mas, em todos, o silêncio vassalo perante o despropósito do autarca, remete para esses lugares onde os déspotas podem dizer o que querem e ninguém ousa reagir. A diferença de Isaltino para Fidel, neste caso, é que Isaltino foi (re)colocado no poder pelo voto democrático.
Por fim, o mais alto magistrado na nação, o “Presidente dos afetos”, Marcelo Rebelo de Sousa. Pousando para a enésima selfie, trata a cidadã por “tu” e, levado pela incontinência verbal, insulta-a. Não o fez por mal, eu também sei. Mas o que pensar de um país que tem como primeira figura uma pessoa sem “filtros”, que diz o que lhe vem à cabeça, que não controla a verbalização dos pensamentos (incluindo pensamentos que encaixam mal na verdade)?
Vejam o programa. Guardem o documentário. E tentem responder à pergunta que fecha o primeiro parágrafo deste texto.
Há disto todos os dias nas notícias. E a pergunta que surge logo após a vontade de escrever umas linhas sobre o assunto é se valerá a pena o trabalho. A verdade é que uma das estratégias preferidas do Mal é a banalização. Repetir, repetir, repetir. Criar habituação. Os alvos das mensagens ou das atitudes vão baixando a guarda (leia-se espírito crítico) e quem se opõe às mensagens ou às atitudes vai perdendo a determinação por estar sempre a dizer a mesma coisa - e ninguém gosta de passar por chato. A banalização é, desta forma, uma arma eficaz. E é por constatar essa eficácia que me obrigo a escrever estas linhas. Como uma espécie de dever moral mínimo. Eles estão a conseguir chegar onde querem e eu reconheço isso, e reajo não tanto para lhes fazer mossa (ok, há sempre essa esperança... ), mas para que a consciência não me acuse. Não me habituo a isto. Não contem com o meu silêncio para normalizar a censura e a tirania.
A história de hoje é esta. Em Inglaterra, King Lawal, vereador de Northamptonshire:
- perdeu o emprego numa empresa de prestação de cuidados médicos;
- foi retirado da lista de apoiantes de uma organização que ajuda crianças a terem acesso a espaços verdes;
- foi suspenso do cargo que ocupava no conselho académico de uma escola secundária;
- foi suspenso pelo grupo local do Partido Conservador, que abriu uma investigação.
A razão deste vendaval na vida de King foi o seguinte tweet a propósito de um parada LGBTQ :
"Quando é que o Orgulho se tornou numa coisa que deve ser celebrada? Foi por causa do Orgulho que Satánas caiu enquanto Arcanjo. O Orgulho não é uma virtude, mas um Pecado. Aqueles que são orgulhoso devem arrepender-se dos seus pecados e regressar a Jesus Cristo. Ele pode salvar-vos."
Perante as críticas que, como era previsivel, não demoraram, King ainda tentou clarificar o significado de pecado para os cristãos, deitando mão as várias citações bíblicas. Mas de nada valeu. Censura e ostracismo (a que agora chamam cancelamento) cairam-lhe em cima e a vida ficou de pernas para o ar. Apenas por expressar publicamente uma opinião democraticamente legítima.
Uma nota para o Partido Conservador que suspendeu King. Leram bem: Partido Conservador. Se estas opiniões não cabem no conservadorismo, cabem onde? No extremismo? Ou não será, antes, o extremismo a invadir o Partido Conservador e a expulsar, como pária, o conservadorismo? Dá que pensar, sem dúvida.
Há menos de um ano escrevia eu aqui que julgava “que as propostas de Rui Tavares não serão acolhidas pela Assembleia da República. Mas a verdade é que os intolerantes estão cada vez mais afoitos, e tantas vezes o barro é mandado à parede que corre o risco de agarrar”. Em causa estava um projeto-lei que visava proibir e criminalizar terapias de conversão sexual (se tiverem paciência podem ler o post aqui). Obviamente, o meu otimismo foi atropelado pela realidade e na passada semana o projeto de Rui Tavares, e outros similares, foram aprovados na Assembleia da República. Em breve, quando a lei for publicada, “quem praticar, promover ou publicitar quaisquer práticas ou tratamentos que visem a repressão ou modificação da orientação sexual” ficará sujeito a sanções, que podem ir até à prisão efetiva. É caso para dizer que a intolerância já não está perto, ela está instalada. E quem não seguir a doutrina oficial será, como é regra nas ditaduras, castigado.
Os andorinhões (apus apus) já chegaram. Ouviu-os domingo à tarde, na varanda, e hoje desafiei a mais nova a irmos procurá-los na zona antiga da cidade. E lá estavam eles, inconfundiveis no seu voo rápido, nervoso e sem descanso. Chegam com a Primavera, vão-se com o Outono, cumprindo o ciclo de sempre. Voltaram. Sejam bem-vindos.
A maior carga fiscal de sempre. O Estado obeso, cada vez mais obeso, precisa de ser alimentado. Por isso, somos forçados a partilhar com ele, em fatias bem generosas, o resultado do nosso esforço. Ou, se calhar, sou eu que estou a ver mal as coisas. Porque no socialismo o dinheiro é do Estado. Todo o dinheiro. Então, em vez de me queixar, talvez deva, antes, estar grato ao Governo por nos deixar ficar com um pouco daquilo que angariamos com o nosso trabalho. Sim, já faltou mais para agradecermos por não nos tirarem tudo.
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