Hoje abriram-se para mim e olharam na minha direção uns olhos familiares. Olhos que representam felizes memórias de infância e palavras de sabedoria de valor intangível.
Estão cansados estes olhos, as pálpebras abrem-se com esforço, por poucos segundos, para logo se fecharem outra vez.
Mas apesar desta fadiga e fraqueza fisíca, estes olhos adornam um rosto sereno, de cabelos alvos, onde uma maravilhosa harmonia irradia uma divina paz.
E num esforço sofrido, juntando todo o pouco oxigénio do seu corpo, proferiu em voz baixa, mas de forma decidida, uma frase que usamos nas despedidas de breves separações: "Um abraço".
Apesar de só eu ali estar fisicamente, senti que aquele cumprimento era também para outras pessoas.
Um dia, há muito tempo, disse a um irmão : "Vais ver que os melhores tempos são os que aí vêm."
Outro dia, em tempos recentes, disse a um adolescente: "Isto das chatices da escola é passageiro, ainda tens uma vida inteira para viver coisas boas."
Domingo passado ao idoso sábio, mas amargurado, que diz que já viveu o que tinha a viver e afirma que "já não está cá a fazer nada", eu disse: "Nós não sabemos o dia de amanhã, todos os dias são uma nova oportunidade de viver ou contemplar um bom momento."
Ele sorriu, pois com base na sua fé e experiência de vida ele sabe que isso é verdade.
A Verdade.
Ouvir uma verdade pode ser incómodo, a princípio, mas é sempre libertador.
Saber que algo é verdade é a forma mais forte de libertação. Libertação da angústia, da incerteza, do desconhecido ou mesmo do medo. Se algo é verdade, então é mesmo assim, avancemos!
E a verdade, para mim e para todas as pessoas que acompanham o caminho das nossas vidas, é que nós vivemos para que a glória de Deus se manifeste. Não é João?
Por isso aceitemos cada novo dia como uma dádiva maravilhosa e empolgante.
O que é que faz com que um adolescente do século XXI, que segue vlogs no youtube, que faz jogos online em equipa com jogadores a milhares de kilómetros e ao mesmo tempo está em videochamada pelo Whatsapp com os amigos reais da escola, e que se aflige quando vê alguém escrever um sms sem usar os polegares, o que é que faz com que esse adolescente se divirta e goste de ver uma série de televisão do século XX, estreada 1994?
Pois é! Cá em casa há alguém, a caminho dos 16 anos, que anda deslumbrado com a sitcom "Friends", que foi produzida entre 1994 e 2004.
Concluo mais uma vez que existem valores e experiências humanas intemporais, independentes da era ou geração em se vive.
Amigos e amizades retratados de uma forma divertida e simples serão sempre um assunto apelativo.
E ao apronfudar esta reflexão cheguei à conclusão que é por isso que o Cristianismo não desaparece, porque tão espotâneo como o descobrir fascínio da amizade, os evangelhos de Cristo, lidos e conhecidos de uma forma simples e aberta trarão sempre uma resposta de esperança para alguém.
Existem vários tipos de beneméritos, mas vamos falar só de dois deles: os que utilizam os seus próprios recursos em prol de todos os outros e os que fazem o bem a alguns usandos recursos alheios.
Promover a leitura e o conhecimento é uma intenção indiscutivelmente benigna.
Eis um exemplo desse empenho: as bibliotecas itinerantes da Fundação Gulbenkian.
Também eu frequentei estas carrinhas, apesar de todos os livros que havia lá em casa, era um acontecimento no bairro o dia da visita da carrinha-biblioteca.
Foi dali que veio a minha descoberta da obra de Júlio Verne.
Este é um exemplo de quem usa os seus recursos para o bem dos outros.
Por uma estrada que leva a um lugar do passado, vão duas gerações: o pai já atingiu o meio século de vida, o filho já gastou quase toda a sua fúria adolescente e começa a mostrar a sua pessoa definitiva. Apesar das muitas coisas que fazem em conjunto, ambos começam a sentir-se estranhos na presença um do outro, um afasta-se para dar espaço, o outro isola-se para criar o seu espaço.
O rádio do carro está ligado, mas vive-se como se tudo estivesse em silêncio, e vai-se mudando entre estações de rádio e ficheiros mp3, sem procurar nada em especial. Até que surge uma música que os acorda. É do final anos setenta, o teledisco oficial mostra uns tipos barbudos de longos cabelos até aos ombros, nenhum dos dois tem algo a haver com essa estética, mas a letra e a melodia são universais: Logical Song dos Supertramp.
Se ambos já iam calados, ficaram ainda mais imóveis, concentrados em absorver a magia que invadiu o ambiente.
O pai recordou a sua juventude, lembrou-se de ter visto o teledisco na televisão, talvez ainda a preto e branco. Depois sentiu uma nostalgia enorme pelo que ele era nesse tempo, por todo o otimismo e esperança que ele carregava nesses anos. Depois sentiu uma enorme alegria por estar ali o seu filho.
O filho ninguém sabe o que pensou, talvez um dia saibamos no decorrer de um jantar de família.
Mas pela minha experiência, sei, que quando um adolescente ouve mais do que 10 segundos de uma música, alguma coisa o tocou, alguma coisa extraordinária está a acontecer.
Ninguém mexeu mais no rádio. Aquela música foi deixada ir até ao fim.
E o momento ficou para a posteridade.
No resto do dia ouve outros momentos inesperados: um adolescente a varrer voluntariamente e de boa vontade um pátio cheio de folhas e ervas secas ... só possível pelas forças do bem ali presentes; um adolescente a fazer considerações inesperadamente favoráveis sobre uma casa de aldeia, pequena, fria e com 70 anos ... só possível pelas forças do bem ali presentes.
As duas gerações voltaram a estar juntas, cooperando conseguiram ter sucesso na tarefa que as tinha levado até ali.
Para além desta pérola de auto-justificação de qualquer acto individual: "Diante das histórias concretas, todo o tipo de rigidez de princípios se desvanecia com muita facilidade."; alguém devia explicar-lhe que Jesus Cristo foi condenado por se ter intitulado Rei, entre os Judeus, e Filho de Deus, e que não era um revolucionário pois não vinha mudar nada (Mateus 5. 17).
Ponto prévio: toda a minha vida me esforcei por poupar a natureza e os seus recursos, não acordei para isso com o Al Gore.
Para o bem do Planeta fomos incentivados a trocar as lampâdas de iluminação nas nossas casas por equipamentos mais eficientes, que consomem menos energia. Por acaso esses novos equipamentos até eram mais caros, por acaso até eram nova uma tecnologia que precisava de escoar a recente produção das novas fábricas, por acaso a margem de lucro até era maior por necessidade de amortizar o dinheiro gasto no desenvolvimento da tecnologia.
Entretanto criámos um hábito que anulou completamente todos esse ganhos de poupança de eletricidade, e ainda não vi ninguém preocupar-se com isso.
Chamam-lhe "nuvem", mas a descrição real é: alojamento remoto de dados.
Se todos os dados fossem guardados localmente, quando nós quiséssemos ver as fotografias das últimas férias, só gastávamos energia quando ligássemos o nosso dispositivo de visualização (computador, tablet, smartphone, smart TV, etc). Depois de ver o que queríamos desligávamos o dispositivo e o consumo de energia passava a 0 (zero).
Com a "nuvem" não. Quando guardamos os nossos dados num sítio remoto, eles comprometem-se a tê-los disponíveis 24 horas por dia, nunca desligam. O consumo de energia é permanente. E para além disso eu não poupo nada pois tenho na mesma de ligar o meu dispositivo para os consultar.
Nos últimos tempos tenho vivido no meu local de trabalho alguns episódios fulgurantes de simpatia com colegas, sobretudo de outras classes profissionais. Uma observação bondosa, uma piada simpática, os sorrisos nascem, e por vezes seguidos de gargalhadas.
É uma sensação tremendamente agradável. E levou-me a questionar: "Mas porque é que não somos sempre assim?"
Depois de algumas semanas de reflexão encontrei um dos motivos: a estupidez dos outros.
Estamos nós empenhados em usar da melhor maneira o nosso pouco tempo para fazer o nosso muito trabalho, quando toca o telefone e alguém a 300 km de distância nos faz um pedido enorme e absurdo que sabemos ser inútil, pois é impossível trabalhar todo aquele material até à hora de ser emitido. E paramos aquilo que nos parecia sensato e produtivo para fazer trabalho vão.
Chateia um bocado, não acham.
Decidi então que a partir de agora vou tentar não me aborrecer mais com a estupidez dos outros.
A machadada final na minha consideração pelo Bloco de Esquerda foi quando em 2011 os representantes do plano de ajuda financeira internacional, sim, chamemos as coisas pelo que são em vez de nomear alcunhas, vieram para se reunir com todos os partidos políticos representados na Assembleia da República, como gesto de consideração pelos eleitores que elegeram esses partidos.
O líder do BE (Bloco de Esquerda) recusou a oferta e não quis falar com eles.
A minha conclusão é que ele não percebeu o que se estava a passar, preferiu fechar os olhos, esperar que eles fossem embora e tudo voltaria ao normal.
Esta semana sucedeu algo similar com a visita do presidente da República Popular da China.
Na cerimónia que decorreu na Assembleia da República o BE e o PAN (Partido dos Animais e da Natureza) não estiveram presentes e preferiram fechar os olhos e suster a respiração enquanto esse "senhor mau" estivesse em solo luso.
Esta diplomacia típica do inicio do século XX levou-nos a coisas terríveis.
O governo chinês faz coisas injustas com que não concordamos, mas a paz entre os povos é mais importante, e os milhões de chineses que vivem hoje uma vida mais agradável do que há 30 anos de certeza que não a querem trocar por uma liberdade caótica como se vive na Venezuela.
Não, senhores "defensores dos direitos", a liberdade não se impõe aos outros, a liberdade propaga-se através das suas virtudes e essas dão-se a conhecer pela convivência dos povos e seus líderes.
De todas as ideologias económicas com que somos bombardeados, a que mais me custa a aceitar é a solução baseda no crescimento infinito.
Segundo essa ideia a única maneira de haver prosperidade é havendo crescimento constante e perpétuo do PIB.
Não posso concordar.
Olhando para as invenções humanas que melhoram a nossa vida em relação à dos nossos antepassados, todas elas se baseiam na observação da natureza e utilização das suas leis e regras.
E uma dessas leis é que tudo o que cresce sem parar, acaba por morrer.
A outra é que tudo o que permanece passa por ciclos regulares de alteração de condições, as alterações em determinado sentido pontenciam o regresso às condições anteriores, e assim sucessivamente.
Tendo como principio de existência o de que estou neste Universo, e que o que me sucede é resultado das leis desse Universo, não posso esperar que aconteça algo que contraria essas regras.
Logo crescimento infinito não há, crescimento perpétuo termina em extinção.
A não ser que eu não esteja preocupado com a minha descêndencia e queira só viver da melhor maneira o meu curto tempo de vida.
Ainda se lembram da promessa de um futuro sem papel?
Previam alguns profetas que com a massificação dos meios eletrónicos de comunicação todas as mensagens e formulários passariam a só existir como ficheiro digital.
Afinal não foi assim.
Agora há um novo ramo dessa arte do marketing que é a profecia tecnológica: os automóveis autónomos, depois de decidido o destino, o automóvel faz o caminho sozinho.
A própria expressão é estranha, dois "auto" consecutivos. Quando dizemos carros autónomos já não soa tão mal, mas para parecer bonito e se poder vender, a expressão que se usa é veículos autónomos, cuja sigla internacional é AV, do inglês.
Mas conforme se avança na introdução desta funcionalidade vão-se descobrindo os pequenos obstáculos que os irritantes seres humanos inventam, só para dificultar a vida à economia, em lugar de serem mansos consumidores.
Como ultrapassar os enjoos das grandes viagens?
Para procurar a solução para este problema esporádico, os investigadores fazem muitos kilómetros de testes como passageiros nos bancos de trás, para testar a reação aos diversos programas de condução autónoma.
Só que o problema e a solução são relacionais, estão nos seres humanos. Quem enjoa espera empatia do condutor para o seu desconforto, e se correspondido o problema é reduzido. Quem conduz espera uma boa avaliação da sua condução e se criticado, o problema aumenta.
Bem podem os profetas do marketing desenvolver algoritmos e sensores, que o bem estar da humanidade estará sempre na empatia e solidariedade, no fundo no amor ao próximo.