Perder a casa da avó
Entro com cuidado e respeito. Sei que deverá ser a última vez que visito a casa da avó.
Enquanto ando com reverência pelas pequenas divisões desta catedral, vou percebendo que o fim deste lugar é o anúncio também do meu.
Um dia as crianças que trouxe comigo, as minhas filhas, deambularão de luto e em despedida por uma casa que eu terei habitado.
Recolho uns poucos objetos para me lembrar de quem aqui habitou e que eu ainda tanto amo.
Demoro-me. Comento. Narro pequenas histórias ao ver uma figueira, um espelho e um portão. Vejo, sem dizer, o tio a dormitar no sofá depois do almoço. Oiço a voz da avó misturando português e castelhano.
Fecho, por fim, a porta.
Perco hoje parte da minha infância, que deixa de ter o conforto de ter este sitio onde regressar