Leão
Parece que ainda foi há pouco tempo que chegou. Já em cachorrinho de pouco mais de dois meses transportava com ele aquele ar de desafiador, convencido que era alguém e que mandaria na família toda. E por pouco não foi assim.
Depois cresceu, guardando a casa de gatos, ratos, formigas e outros insectos, ladrando até a exaustão de todo e qualquer ser vivo do planeta Terra. Não havia bicho que nos assaltasse. Pelo caminho, também, um dentada num desmiolado que resolveu meter o braço para dentro do portão; e uma outra num vizinho de confiança que conhecia havia dez anos. Sempre a inovar...
Mas aquilo que a mim pareceu pouco tempo é muito tempo na vida de um cão rafeiro de médio porte com genes belgas. Ao longo de um ano temos visto o Leão definhar, perdendo parte da visão, do andar e da capacidade de digerir. A rápida vida dos animais, acho, foi feita para nos farpar a alma e fazer sofrer. E fazer com que o final dos fins de semana sejam depressivamente tristes, antecipando o seu final. Em todo o caso nem quero pensar como seria se a sua vida fosse longa. Mesmo que logo no princípio eu percebesse que a vida com ele seria uma prisão e nem sequer gostasse do cão.