It´s no funny anymore
Lembro-me da história contada em roda de amigos, quando eu era adolescente. Alguém viu na televisão ou leu numa revista o caso de um brasileiro que, tomado por pulsões suicidas, subiu ao parapeito de uma janela de uma andar muito alto e preparou-se para saltar. Não saltou logo, talvez acossado pela dúvida no momento de concretizar um ato tão radical. Enquanto a sua convicção vacilava, cá em baixo as pessoas iam parando a observar a cena. Não demorou a que se juntasse uma multidão em frente ao edifício. O homem hesitava. O povo crescia. E neste impasse passaram-se alguns minutos. Até que uma voz no meio da multidão decidiu que era tempo de apressar aquela cena que demorava. Começou a gritar, e em pouco tempo o seu grito era o de todos:
- Sal-ta! Sal-ta! Sal-ta!
E o homem saltou.
Na roda de amigos adolescentes nós rimos.
- Esses brasileiros são malucos…
Rimos. A história estava-nos longe, era como num filme ou numa banda desenhada, e tinha um desfecho imprevisível, elemento eficaz no humor.
Hoje já não rio. A história vai passar-se na minha rua e são vizinhos meus (serão malucos?) que gritam “salta”. It´s no funny anymore.