Em campanha - o animalismo
No fim do ano passado ficámos a saber que atualmente em Portugal se gasta mais em seguros de animais do que com seguros para crianças. Haverá, por certo, algumas explicações para a situação, como o facto de haver seguros obrigatórios para animais e os custos elevados com veterinários aconselharem alguma prevenção. Ainda assim, não deixa de ser um dado impressionante. Há uns anos uma pessoa próxima confidenciava-me, entre o choque e a ironia, que na sua declaração anual do IRS tinha diminuído o valor dedutível para as despesas escolares dos filhos, mas, em compensação, tinha passado a poder deduzir os gastos com o gato no veterinário. Não é novidade, portanto, esta sobrevalorização dos animais em relação aos humanos (neste caso, os humanos mais frágeis, as crianças). Aliás, para quem está atento, esta sobrevalorização manifesta-se em muitas facetas do nosso quotidiano. Nas prateleiras com comida para animais nos supermercados, por exemplo, que são duas ou três vezes mais extensas do que as direcionadas às crianças. Ou na própria lei do país, como demonstram duas intervenções recentes dos tribunais. Uma deixando sem qualquer pena a mãe que deitou ao lixo o filho recém-nascido (que não morreu apenas porque alguém passou perto e ouviu o choro). Outra, recuperando, a propósito da verificação da sua constitucionalidade, uma sentença de 2018 onde um homem foi condenando a dezasseis meses de prisão efetiva por ter matado uma cadela durante uma tentativa de aborto a sangue-frio. Ou seja, pelo bebé zero, pela cadela dezasseis meses. Sem dúvida que a fronteira entre humanos e animais se vai esbatendo, e essa não é seguramente uma boa notícia, pelo menos numa perspetiva cristã.
Nestas eleições o representante do animalismo é o PAN. Que se apresenta com obra feita. De facto, na Assembleia da República, trocando os seus votos, importantes num contexto de maioria relativa, por capacidade legislativa, o PAN foi o grande responsável pela transposição para a lei de princípios animalistas. Seguramente, quererá continuar o trabalho na próxima legislatura, ainda que em campanha a imagem que tente passar seja a de um partido inócuo, oscilando entre o extravagante e o “fofinho”.