Da indignação fofinha em política
Não nos fiquemos pela constatação óbvia de que as mesmas pessoas que outrora representaram Ângela Merkel com um bigode nazi, agora lamentam o fim do seu mandato como o de uma grande e inigualável chefe de estado.
Vamos imaginar que dezenas de médicos de um hospital administrado pelo Estado se demitiam por falta de condições de trabalho. Depois, imaginemos que um outro desses hospitais do Estado, um que servisse cerca de meio milhão de utentes, por exemplo, encerrava as Urgências durante a noite por falta de pessoal. Em cima disto, coloquemos Passos Coelho como primeiro-ministro.
Se imagino tudo isto, já o ultraje e o rasgar das vestes generalizado nas redes sociais, e em manifestações “espontâneas” decorrentes, não consigo imaginar. A partir de um certo nível, a hipocrisia política é capaz de coisas espantosas, como é evidente pelo quase silêncio da esquerda com o que se está a passar. Juntando a isto a rábula anual do "assim como está não aprovamos orçamento" que termina sempre em aprovação, podemos concluir que vivemos um momento exemplar do que é hipocrisia política.