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Small Church

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Ainda as eleições na Suécia (II)

Não é preciso esperar por eleições para sentir o efeito “Suécia” que descrevi ontem. Nos meios de comunicação, por exemplo, ele já é visível. Como neste texto.   

O apelo à discussão franca, e organizada, do assunto “imigração” é uma concessão importante por parte do “sistema”. Bem nos lembramos, e, na verdade, ainda acontece, da impossibilidade de discutir tal assunto abertamente. Quem o quisesse fazer, porque, como em tudo o resto na vida democrática, as opiniões são várias e as decisões devem tê-las em conta, quem quisesse discutir imigração era imediatamente insultado com dois ou três rótulos que o colocavam fora da possibilidade de debate, e, dessa forma, o diálogo acabava ali porque os democratas não discutiam com xenófobos e quejandos. Agora que a censura preventiva parece não alcançar o efeito desejado, passa-se, então, ao apelo ao diálogo. E como os rótulos ficaram gastos de tanto uso, e tendem a tornar-se contraproducentes, acaba-se também com eles. Menos mal, dizemos nós, ainda que com plena consciência que esta disponibilidade para diálogo e para o fim do insulto é apenas um recuo tático. Porque a intenção permanece: impor a “verdade” do ”sistema”. Este parágrafo é esclarecedor: “Se queremos mudar como pensam, temos de conversar - com todos e muito em particular com eleitores que legitimam partidos com políticas que vão contra os valores democráticos e que custaram séculos de progresso social e humano. A melhor possibilidade que temos de não ver políticas fascistas é "ganhando" quem vota ou pode votar nelas para soluções democráticas - e é pouco provável que se consiga fazê-lo gritando a cada passo que são fascistas”. Ouvir o outro, aprender, encontrar soluções equilibradas, as virtudes que associamos ao diálogo, não interessam aqui. Seja como for, o “sistema” recua, e isso é bom.

Ainda as eleições na Suécia (I)

Tenho para mim que as eleições suecas do passado dia 11 constituem um acontecimento importante na História europeia contemporânea. Precisamente porque a viragem feita à direita (toda a direita, da moderada à extrema) acontece na Suécia. Não é na latina Itália, berço do fascismo de Mussolini, ou nas ex-comunistas Hungria e Polónia. Não é num país com historial recente pouco democrático. Acontece na Suécia, num nórdico, num espaço que para nós é sinónimo de tolerância, civilidade e democracia. E a questão é esta: se os suecos, que são o tal modelo de tolerância, civismo e democracia, tomam esta opção porque não segui-los, ou, pelo menos, porque não pôr em cima da mesa essa possibilidade? É isto que vai ser dito pelos parceiros ideológicos por toda a Europa e, não tenho dúvidas, vai legitimar na mente de muitos eleitores a escolha à direita como cabendo dentro do espectro democrático. Se os suecos votam assim porque não nós? Esta pergunta tem tudo para ter um peso relevante na balança política europeia.

Da desfaçatez

João Gomes Cravinho, ministro socialista, cujo partido, em 2015, depois de ter perdido as eleições para os sociais-democratas, chegou ao poder recorrendo à aliança com a extrema-esquerda, comentou publicamente a maioria de direita surgida nas eleições do  último domingo na Suécia. Para se aferir a dimensão da desfaçatez do ministro troque-se nas declarações a referência ao país e ao lado político vencedor - eu ajudo, entre parentesis. Fica assim:

 "A vitória nas eleições da Suécia [em Portugal] foi para o Partido Social Democrata, que foi por cerca de 10% o partido mais votado. Portanto, o primeiro comentário é para dar os parabéns ao Partido Social Democrata pela votação que teve. "

"Infelizmente, há uma maioria que inclui a extrema-direita [esquerda] e que possivelmente - vamos ver -, formará Governo. O nosso voto é que as políticas da extrema-direita [esquerda] não sejam relevantes no próximo Governo que vier a sair das eleições da Suécia [em Portugal]" .(aqui)

Das duas, uma: ou Cravinho reconhece, ainda que implicitamente, o erro da geringonça, de se ter trazido os extremistas para o poder, e parabeniza Pedro Passos Coelho; ou tem um descaramento do tamanho da Serra da Estrela. Sem ilusões, acho que é a segunda hipótese.

 

TPC

TPC

Leio Os Maias aos 55 anos. O livro passou-me pelas mãos no secundário, como é óbvio, mas a coisa fez-se apenas com uns trechos lidos nas aulas e, sobretudo, alguma atenção ao resumo na revisão antes do teste. Deu para passar, e isso, na altura, era o mais importante. Agora levo o livro para férias. Um clássico de 700 páginas a que me rendo, na sua escrita fluída e elegante, crónica social e ironia certeira. Gostei, resumindo. E fico a pensar que, sem dúvida, aos 15 anos toda esta arte me teria passado ao lado, porque tudo tem o seu tempo e Os Maias não é leitura para adolescentes – no meu caso não era certamente. Imagino, então, o professor de português escrevendo no quadro, depois da tal aula de revisão, o decreto sagaz que lançaria o livro de Eça para lá do estrito cumprimento do programa escolar. Seria qualquer coisa do género:

TPC: ler Os Maias aos 50 anos.

Benfica 2 Maccabi 0

Não vi nem ouvi o jogo de ontem. Só hoje, lendo o jornal Público no trabalho, tive oportunidade aceder ao relato do que se passou. Em honra à qualidade desse relato, que me satisfez, transcrevo aqui parte da peça que o jornalista Augusto Bernardino assinou.

Roger Schmidt foi obrigado a rever as notas para a segunda metade, que até podia ter começado da pior forma, com Florentino a comprometer e Pierrot a ficar muito perto de bater Vlachodimos. O susto fez bem à equipa portuguesa, e numa variação da direita para a esquerda, Grimaldo surgiu em posição para cruzar e oferecer o golo a Rafa (50’).

O Benfica chegava à vantagem com um toque de classe e acabava aí a resistência do Maccabi. A confirmação surgiria quatro minutos depois, numa execução perfeita de Grimaldo, que percebeu o adiantamento do guarda-redes Josh Cohen e finalizou com um remate que descreveu uma trajetória imparável, colocando a “águia” em piloto automático.

A partir daí o Maccabi percebeu que precisava de elevar o nível do seu jogo para patamares que apenas conseguia pôr em prática no plano teórico. Empolgado, o Benfica também não parecia interessado em baixar o ritmo, mantendo o adversário em constante sobressalto e ameaçando chegar ao terceiro golo, sempre com Rafa a assumir a batuta e a desestabilizar a cada vez mais instável defesa israelita.

Portugal igual

Um excerto d’Os Maias, de Eça de Queiroz:

“- Então, Cohen, diga-nos você, conte-nos cá…. O empréstimo faz-se ou não se faz?

E acirrou a curiosidade, dizendo para os lados que aquela questão do empréstimo era grave. Uma operação tremenda, um verdadeiro episódio histórico!...

O Cohen colocou uma pitada de sal à beira do prato, e respondeu, com autoridade, que o empréstimo tinha que se realizar “absolutamente”. Os empréstimos em Portugal constituíam hoje uma fonte de receita, tão regular, tão indispensável, tão sabida, como o imposto. A única ocupação mesmo dos ministérios era esta – “cobrar imposto” e “fazer o empréstimo”. E assim havia de continuar.

Carlos não entendia de finanças: mas parecia-lhe que, desse modo o país ia alegremente e lindamente para a bancarrota.

O Cohen acertou em cheio. Passados quase 150 anos, assim continuamos: empréstimos, ou seja, dívida amontada; e impostos, impostos sempre a crescer. Falta aqui a mão estendida à União Europeia, que na altura não existia, e que tem funcionado como retardamento, e ao mesmo tempo paliativo, para o desfecho vislumbrado por Carlos (mesmo não percebendo nada de finanças…).

Monarquia, república, ditadura e democracia: mudam as formas de governo, mas tudo continua tão parecido.

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