Rui Tavares, deputado do Livre, vai entregar na Assembleia da República um projeto de lei que prevê a criminalização das “práticas de conversão” da orientação sexual. A proposta pretende que “quem praticar, promover ou publicitar quaisquer práticas ou tratamentos que visem a repressão ou modificação da orientação sexual, identidade de género ou expressão de género de qualquer pessoa é punido com pena de prisão até três anos ou com pena de multa, se pena mais grave lhe não couber”.
Obviamente que esta é uma proposta antidemocrática e anticonstitucional. Um exercício simples torna evidente a ilegalidade: experimentem trocar “sexual” e “de género” por “religiosa”, “política” ou “estética”.
Reparem que o que está em causa não é impor algo a alguém. “Praticar”, por opção do próprio, “promover”, sem forçar, e “publicitar” são aspetos fundacionais da vida democrática. É o que fazem as famílias, os amigos, as religiões, os partidos políticos, as empresas, os clubes desportivos, os artistas. Temos o nosso próprio caminho, temos direito a escolhê-lo, mas estamos expostos uma multidão de alternativas e temos que viver com elas, por muito irritantes e perturbadoras que sejam. Esta é a essência da democracia: ter direito a escolher e ter direito a alternativas para escolher.
Calar as alternativas é censura. Só permitir um caminho é ditadura.
Julgo que as propostas de Rui Tavares não serão acolhidas pela Assembleia da República. Mas a verdade é que os intolerantes estão cada vez mais afoitos, e tantas vezes o barro é mandado à parede que corre o risco de agarrar.
Um artigo no Expresso sobre a decisão do Supremo Tribunal americano de passar para os estados a decisão de legalizar ou proibir o aborto. O Expresso tem a sua linha editorial sobre o assunto, bem conhecida, e eu não estava à espera de encontrar uma abordagem imparcial. Não me enganei. O estilo é panfletário, o que, diga-se, não causa grande mal, quem quiser conhecer o outro lado vai procurar noutro jornal. O que não estava à espera era do wokismo sem véus que encontrei no texto.
Primeiro, uma afirmação pouco clara: “1 em 4 pessoas nos EUA fazem um aborto ao longo da vida”. A autora enganou-se, e em vez de escrever “mulheres” escreveu “pessoas”, pensei eu. Se não fosse assim, e assumindo que pelo menos metade da população do EUA é do sexo feminino, significaria que uma em cada duas mulheres faria um aborto ao longo da vida, o que constituía uma percentagem brutal e totalmente inverosímil. Uma “gralha”, portanto, foi a minha conclusão, avançando no artigo. Mas um pouco mais abaixo, a teoria da “gralha” caiu por terra. A autora dá voz aos "ativistas" (quais? O que estão a favor ou os que estão contra? Devem ser os a favor, julgo eu, mas um pouco mais de clareza só ajudava o leitor), os ativistas estão preocupados com “os direitos reprodutivos das pessoas com útero”. “Pessoas com útero”?! Ok, percebi, estão explicadas as “gralhas” e as meias palavras. Não é distração. Nem é propriamente jornalismo. É wokismo.
Passamos por S. Torpes e damos lá um mergulho, pensei eu. A água morna, ou menos fria, conforme as sensibilidades, convidava a isso. A ponta norte da praia de S. Torpes beneficia da proximidade da saída da água que arrefece a central termoelétrica de Sines. Vinte, trinta metros de praia com água morna e depois… o mar mais frio da costa alentejana. Era bem pensado, sim senhor, mas não aconteceu. Porque a central termoelétrica foi desativada há mais de um ano e deixou de haver água morna. Acabar com carvão como combustível para produzir eletricidade acabou com o nosso banho ameno em S. Torpes.
Lembrei-me disto quando vi a notícia que a Alemanha, os Países Baixos e a Áustria tinham decidido reativar as centrais a carvão (com o pormenor delicioso de o ministro da economia alemão, que anunciou a medida, ser do partido… ecologista). Já que, afinal, o planeta pode esperar, e conhecendo a plasticidade de António Costa no que à Europa diz respeito, talvez ainda volte a ser possível tomar um banho tépido em S. Torpes.
António Felix da Costa finalmente ganhou Le Mans na categoria LMP2*. A corrida mais famosa do mundo! E Filipe Albuquerque também já o tinha feito dois anos atrás.
Mas nada. Os media portugueses não querem saber disso. Nem quando AFC foi campeão do mundo de Formula-E quis.
Daqui a pouco, de manhã, desconfio que ficaremos a saber por quantos milhões um jogador estrangeiro foi vendido. De capas inteiras. Mas destes que são a nata do desporto português, talvez um rodapezito, escondido ao fundo da página.
Quem sabe um dia, se tentar de mota...
* E Henrique Chaves na GTE Am; e a Agarve Pro Racing a LMP2 na vertente Pro/Am...