Em França, um futebolista do PSG, Idrissa Gueye, está na berlinda porque, aparentemente, não quis vestir a "camisola com as cores da bandeira LGBTQ+" na jornada contra a homofobia. O que parecia ser uma posição perfeitamente legítima no âmbito da liberdade de pensamento e de crença, por certo sujeita a críticas e a apoios, como todas as outras, mas posição legítima, acabou por se transformar num caso de polícia. A governante eleita democraticamente não tem dúvidas que "a recusa de Idrissa Gueye em unir-se à luta contra a homofobia não pode ficar sem sanções", e o dirigente coorportivo quer a lei a castigar o senegalês, explanando com clínica limpidez o raciocínio repressivo da ditadura: quem não se enquadra nos comportamentos superiormente definidos é homofóbico e "ser homofóbico é punível por lei". Mais claro que isto é difícil. Já não é preciso agir contra para ser condenado, basta não fazer o que previamente alguém definiu por nós que deve ser feito; já não é preciso as acusações serem suportadas por atos, basta a passoa "ser" - e para discernir quem "é" temos a casta do "esclarecidos". Se isto não cheira a ditadura, e da pior, então os nossos narizes europeus estão mesmo doentes. Somos todos Idrissa Gueye?
Conheci-a há mais de vinte anos, num contexto de trabalho. Embora fosse muito mais nova, a mais nova de toda a empresa, e por isso muito menos nos meus círculos naturais mais chegados de colegas, já havia nela algo de muito especial. Mas nem eu podia saber porquê.
As nossas histórias separaram-se pouco depois. Voltámos a ver-nos de raspão muitos anos depois, devido a um amigo em comum e, então, nada mais do que um amável cumprimento. Os anos acumularam-se sem que soubessemos um do outro. Éramos e sempre tinhamos sido desconhecidos.
Depois, por uma coincidência cósmica, que envolve outro amigo comum, em que a probabilidade de ser conhecido por ambos poderá ser de cerca de um milhão para um, volto a ter notícias. As melhores que podia ter dela.
Tudo fazia, afinal, sentido. Predestinação, talvez. Confluência espacial e temporal sem que se possa disso tirar alguma conclusão, senão de que Alguém faz funcionar o Universo.
Não sei como Deus faz as coisas. Só sei que as faz e que há um propósito nelas. Tanto, que nenhum detalhe é deixado ao acaso.
Há pessoas que foram dadas ao mundo para nos guiar, como estrelas no céu à noite, para navegantes sem vela. São essas tais que fazem chover torrencialmente nos nossos desertos, que fazem voltar a florescer sonhos de eternidade, mesmo que tenham chegado agora, a pairar, onde há anos parecemos apenas rastejar.
Ele enche-as de dons, de sentimentos e de brilhos tão raros que apenas a simplicidade ou o silêncio se lhes podem comparar. Devemos muito estar-Lhe gratos.
Núvens enegrecem no horizonte como nunca antes. Aproximam-se velozmente, com dentes cerrados, prontas para a guerra e mentira. Precisaremos de cabeça fria e coração quente. E de luz. Muita luz.
Sobrevivi até aqui sem psicólogos, psiquiatras e sem fármacos. Não me permitirei deixar de fazer parte dessa exceção entre os adultos contemporâneos com menos de 60 anos.
Cometi o erro de contar as pessoas à minha volta que já tiveram depressões, burnouts e afins, e as que precisaram de “ajuda” psicológica profissional ou especializada. São muitas, arrisco a maioria. É espantosa a normalização desta fragilidade, a criação desta cultura da doença mental. Dir-se-ia impossível a sobrevivência da humanidade até aos anos 90 do século passado, altura em que tudo isto começou.