Particularmente elucidativo o trecho em que se dá conta que “o livro foi retirado completamente em março deste ano, após uma revisão independente e já não se encontra disponível para compra. A OUP destruiu o seu próprio stock do livro, embora um pequeno número de cópias ainda possa ter escapado. Alguns títulos mais antigos ainda podem estar disponíveis em bibliotecas”. Não basta desaconselhar a leitura ou censurar, é preciso destruir, erradicar. Claro que há sempre o risco de escapar algum exemplar. Se tal acontecer, fiquem todos a saber que o livro consta do index e que o dever cívico de quem encontrar tal exemplar é, primeiro que tudo, não ler e, logo de seguida, dar um fim definitivo ao objeto. Muito inconveniente também será ter na sua posse um livro destes. No mínimo, o infrator será castigado com alguns “ismos” e “ófobos” estigmatizantes.
E, nesse percurso de rarefação da minha perceção de Deus, vou-me espantando com a simplicidade crescente do Caminho e da Boa Nova. Recuando ainda um pouco mais, chego a YHWH e às Suas únicas condições: a fé no que não é material e a obediência à moral proposta.
Manifesta-se pela primeira vez perante os meus olhos, nessa aproximação de YHWH a Moisés, a diferença entre uma fé cega e a praticada de olhos fechados enquanto se dá o passo por obediência.
Expira, nessa obediência, Jesus na cruz, cobrindo mais tarde a Humanidade na Ressurreição com o manto que o pai lhe confiou: a Boa Nova de que a Lei se resume a amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. O arrependimento é uma consequência imediata perante o corpo ressurreto e da mente que revê os seus amigos em choque e pede comida.
YHWH a Moisés. O Messias a nós. As mesmas palavras, o mesmo gesto de convite a uma vida terrestre plena, totalmente material e espiritual ao mesmo tempo. As mesmas palavras, insurgindo a oração no desespero dos dias, ecoando no mundo desde há milhares de anos como um ruído de fundo, como o vento, o mar ou palrar de um bebé.
Um ruído divino circulando eternamente pelo mundo, preparado para ser entendido como o sopro de Deus.
Tempos atrás, alguém dizia que quem espalhar "notícias falsas sobre a guerra" pode apanhar até 15 anos de cadeia. Mas esse é mau. Vamos boicotar.
Entretanto, parece que o Twitter recusará anúncios que contrariem a ideia de que há "aquecimento global". Mal comparado, "se não concordam connosco, não podem dizer o que acham." Aqui não se preocupem, esse é bom. Podemos continuar a usar.
- Os andorinhões (apus apus) estão de volta. No passado dia 6 vi o primeiro deste ano. Caminhava para o carro quando ouvi o característico piar agudo. Procurei no céu, e lá estava ele, no seu voo rápido e nervoso, confirmando, assim, a Primavera. Agora já são bandos, que por cá ficarão até setembro.
- Os Monty Phyton em reposição na RTP2, uma boa surpresa no final da noite de dia 7. O episódio era de 1969, e eu conhecia alguns dos sketches, mas, ainda assim, conseguiu arrancar-me genuínas gargalhas. Muito bom, como sempre. Às quintas-feiras.
Quando ontem ouvi a locutora de rádio dizer que "as sanções económicas à Russia irão estender-se às filhas de Putin", fiquei contente por dois motivos: Em primeiro lugar porque esta será mais uma forma de dissuasão com vista ao final da guerra na Ucrânia; em segundo porque andava há anos para ter um bom pretexto para usar a felicíssima expressão.
Se a moda pega por cá, há muita gente que ficará na miséria.
Por curiosidade fui comparar os resultados das eleições de 2019 com os resultados das eleições do passado janeiro. Somei as percentagens de votos à esquerda e de votos direita e verifiquei, sem grandes surpresas, que a esquerda baixou (54,0%, em 2019 e 51,1%, em 2022) e a direita cresceu (35,1%, em 2019 e 43,1% em 2022). Significativamente, o decréscimo da esquerda coincide com a maioria absoluta ao PS, fruto do esvaziando do Bloco e da CDU. Isto afigura-se-me como mais um exemplo do acantonamento do regime. De facto, a ideia que fica é que os eleitores de esquerda, claramente maioritários nas últimas décadas, bateram em retirada para a fortaleza que lhes parece mais sólida e segura, onde julgam ser possível, juntando forças, defender com sucesso os seus interesses. Foi isto mesmo que eu escutei, com alguma surpresa, em comentários avulsos pré-eleições, e é isto o que a maioria absoluta do PS significa: esquerda em perda e na defensiva - sim, por paradoxal que pareça, é isto que significa. A direita, em contrapartida, cresce e fragmenta-se, precisamente o processo contrário ao da esquerda. Esta fragmentação abre novos caminhos e cria novas oportunidades. Resta à esquerda, então, o populismo de António Costa. E, reconheça-se, ele é bom nisso. Mas, como lembra aqui o João, o populismo vive da clientela eleitoral satisfeita. Expectativas não correspondidas, à conta da inflação, por exemplo, podem facilmente abrir a porta a outro vendedor. E é assim que estamos. O regime (o tal grupo agarrado ao poder) escudado numa maioria absoluta, mas numa situação de extrema fragilidade.
Poucos dias depois de ultrapassar em longevidade o Estado Novo, a democracia portuguesa torna a evidenciar sintomas de degradação. Desta vez foi na eleição dos vice-presidentes da Assembleia da República. Quebrando a tradição, a regra não escrita, os dois maiores partidos, PS e PSD, dividiram entre si os lugares, deixando de fora a terceira força política, Chega, e o seu eventual substituto “não radical”, Iniciativa Liberal. É bom lembrar que no passado, quando CDU e Bloco de Esquerda estavam no mesmo lugar hierárquico quanto ao número de deputados, o Parlamento elegeu comunistas e bloquistas para a vice-presidência. O extremismo nunca foi problema… até hoje. Constata-se que passou a ser agora. E porquê? Tenho para mim que estes pretextos claramente forçados, na linha dos atos de censura praticados por Ferro Rodrigues sobre o Chega, por exemplo, são afloramentos da arrogância, por um lado, e do desespero, por outro, do regime que nos governa (regime entendido aqui como grupo agarrado ao poder e não como sistema político democrático). Uma mistura de à-vontade de dono disto tudo e de incapacidade para abafar a alternativa em crescimento. O regime acantona-se na tentativa de juntar forças para travar, abrandar o mais possível o processo em curso – porque inverter a situação parece ser já uma miragem. Vai tarde, julgo eu. Não é fácil prever quanto tempo irá durar o processo, e quantas arbitrariedades e atropelos à democracia, como o de hoje, irão acontecer – não se larga o poder sem tentar todos os golpes. Mas a julgar pelo medo e pela fraqueza que o acantonamento demonstra, sublinhados pela descarada inimputabilidade democrática, o regime que não quer larga o poder parece ter os dias contados. Uma questão de tempo, digo eu.