Tenho reparado que o tempo de resposta, quando esta chega a ser enviada, é cada vez mais longo. Contactos por SMS ou e-mail, que antes seriam respondidos com a rapidez de uma amizade, hoje podem demorar um ou dois dias a ser respondidos (quando o são). Há uns anos, ignorar o contacto de alguém seria negligência e motivo legitimo de dor e chatice. Hoje, entre amigos, o não responder é considerado natural.
A resposta que eu tenho para a questão de como é que esta faceta social mudou tanto, e em tão pouco tempo, é que o devemos à ubiquidade do smartphone.
Aí está a mente a tentar lidar com um aparelho através do qual recebe mensagens de uma série de origens diferentes como SMS, e-mail, Whattsap. Instagram, notificações de notícias, Facebook e outras. As notificações diárias multiplicam-se quando, antes, com os telemóveis clássicos, só havia o SMS. O objeto que tínhamos na mão recebia uma mensagem e nós, naturalmente, atribuíamos-lhe toda a nossa atenção, respondendo logo à interpelação do nosso amigo ou conhecido.
Eu, que depois de uns tempos de uso pus de lado o smartphone, usando agora um Nokia à antiga simplicíssimo para comunicar, deixei de estranhar que o envio de uma mensagem a alguém conhecido, ou mesmo a um bom amigo, não tenha qualquer resposta. Calculo que a minha tentativa seja só uma entre dezenas de outras com uma dúzia de origens e que, na triagem, a minha amizade ou importância como pessoa seja classificada como não urgente.
Não coloco em causa a legitimidade de ignorar contactos, mas fico a pensar como é que será o futuro conforme a comunicação vai ficando cada vez mais dependente deste tipo de aparelhos. Mediada por eles, conseguirá a intimidade de uma amizade prevalecer na sua importância, que tem sido fundamental para a humanidade, perante tanta dispersão e falta de atenção?
Era bom que o CDS parasse para pensar, percebesse qual o seu papel, e a importância dele, e agisse em conformidade enquanto é tempo. A direita precisa disso. Os eleitores, em geral, precisam disso. Na verdade, a clarificação à direita, que aconteceu com entrada do Chega e da Iniciativa Liberal no Parlamento, é provavelmente a grande novidade política dos últimos anos. As opções à direita estão, agora, definidas com suficiente precisão para, quem assim o desejar, poder votar de acordo com as convicções pessoais. Senão, vejamos:
Quem é liberal na economia e liberal nos valores/costumes vota Iniciativa Liberal;
Quem defende o liberalismo económico, mas nos valores/costumes é conservador, vota CDS;
Quem prefere as ideias conservadoras nos valores/costumes, mas, quanto à economia, tem simpatias estatizantes (os populismos são sempre estatizantes), segue a opção Chega.
Desta forma, e de um modo geral, o espectro da direita está preenchido. E isto é bom para ela, porque a clareza de ideias alarga o leque de opções. E é bom para os eleitores, porque podem pensar e decidir o voto segundo os seus princípios e convicções, deixando para lugar secundário a personalidade dos candidatos e os fait-divers lançados na comunicação social.
O que acontece atualmente no CDS é um passo atrás nesta clarificação: um partido conservador/liberal não se comporta assim. Por isso o meu pedido. Arrumem a casa, que ainda há tempo, e vão às legislativas com a compostura inerente aos princípios que dizem defender.