Democracia Cancelada
Cancelar opiniões? As coisas que se fazem em nome das liberdades. A História é circular. Humberto Delgado que o diga.
Não nos ponhamos a pau, não.
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Cancelar opiniões? As coisas que se fazem em nome das liberdades. A História é circular. Humberto Delgado que o diga.
Não nos ponhamos a pau, não.
Sérgio Conceição surpreende Joana Marques: treinador do FC Porto diz que humorista já foi "Extremamente Desagradável"
Amizades à parte, e da capacidade de podermos dizer aos nossos amigos aquilo que é justo em detrimento daquilo que seria da praxe dizer, isto parece-me mais ou menos o mesmo que Muhamed Ali queixar-se que Ghandi tem um soco demasiado demolidor; Edite Estrela fazer emendas nas pautas de Debussy; ou Tony Carreira meter defeitos nas métricas de Camões.
Lembro-me de numas vindimas em França, ainda não chegara eu aos 20, ter encontrado uma rapariga irlandesa e, falando-se de música, e de música do seu país, ter surgido na conversa o nome de Van Morrison. A jovem ruiva (sim, cumpria os padrões típicos...) torceu o nariz e considerou-o "old fashion" - na altura despontavam os U2 e acho que foi para eles o maior entusiasmo. "Old fashion"?! Eu não conhecia muito de Van Morrison, mas a rótulo não me parecia justo. E a verdade é que não era mesmo. A prová-lo está esta canção feita recentemente, já depois da entrada nos 70. Sempre em forma, o grande Van Morrison.
Não nos fiquemos pela constatação óbvia de que as mesmas pessoas que outrora representaram Ângela Merkel com um bigode nazi, agora lamentam o fim do seu mandato como o de uma grande e inigualável chefe de estado.
Vamos imaginar que dezenas de médicos de um hospital administrado pelo Estado se demitiam por falta de condições de trabalho. Depois, imaginemos que um outro desses hospitais do Estado, um que servisse cerca de meio milhão de utentes, por exemplo, encerrava as Urgências durante a noite por falta de pessoal. Em cima disto, coloquemos Passos Coelho como primeiro-ministro.
Se imagino tudo isto, já o ultraje e o rasgar das vestes generalizado nas redes sociais, e em manifestações “espontâneas” decorrentes, não consigo imaginar. A partir de um certo nível, a hipocrisia política é capaz de coisas espantosas, como é evidente pelo quase silêncio da esquerda com o que se está a passar. Juntando a isto a rábula anual do "assim como está não aprovamos orçamento" que termina sempre em aprovação, podemos concluir que vivemos um momento exemplar do que é hipocrisia política.
Os tiques ditatoriais da União Europeia, ao querer sobrepor-se à legítima soberania de cada estado membro, ficaram bem patentes na polémica em torno da denominada “lei anti-LGBT” aprovada pela Polónia e pela Hungria no verão passado. Num assunto que é de evidente sensibilidade e de difícil concertação, a Comissão Europeia tomou uma posição unilateral e recorreu à ameaça direta para forçar o seu lado. Ora, esta não é a forma de tratar estes assuntos em democracia. Porque, e é importante realçar este ponto, os direitos individuais dos homossexuais não foram postos em causa. Pelo que está escrito na lei, ninguém corre o risco de ser preso, ou sequer incomodado, pela sua opção sexual ou pela vivência dessa escolha na intimidade. O que está em causa é a vivência dessa opção em sociedade, no espaço público. E aí os direitos dos homossexuais pesam tanto como os direitos dos restantes cidadãos, nomeadamente os das crianças. As limitações que possam ser impostas a um dos lados decorrem dessa coexistência e das escolhas que tem de ser feitas quando não é possível satisfazer todas as pretensões.
Há uns anos, a Suiça teve de resolver uma situação de alguma forma similar. Não envolvia uma minoria sexual, mas uma minoria religiosa. Com o aumento da emigração, a comunidade muçulmana crescia e em muitas aldeias suíças construíram-se mesquitas para acolher os fiéis, mesquitas que incluíam os longilíneos minaretes, as torres de onde é feita a chamada à oração. Acontece que essas torres rivalizavam em altura e em destaque com os campanários das igrejas locais, o que, na cabeça de muitos suiços, começou a ser visto como uma ameaça a uma das imagens de marca do país: o casario incrustado na montanha e, no meio, dominando tudo, a torre com o sino. A situação não tinha solução fácil. Por um lado, os muçulmanos tinham direito à livre expressão da sua religiosidade; por outro lado, aos suiços era lícito preservarem um símbolo que consideravam importante. Não havendo soluções fáceis, e não abrindo nenhuma das partes mão das suas pretensões, a decisão foi encontrada num dos frequentes referendos helvéticos, através do voto da maioria. Os minaretes foram proibidos. Os muçulmanos mantiveram intactos os seus direitos religiosos, ainda que a expressão publica da fé tivesse que ser parcialmente atenuada; os suiços garantiram o bilhete postal que é importante para a sua identidade.
Os eurocratas de Bruxelas deviam aprender com os vizinhos suiços. Democracia é tentar o acordo e o compromisso, e quando isso não é possível, sujeitar-se à decisão da maioria, neste caso, à decisão soberana dos estados-membros. Posições unilaterais e a tentativa de forçar decisões tendo em conta apenas uma das partes são tiques totalitários absolutamente dispensáveis.
Estoril Classics 2021 é um evento importante e dá sempre direito a fotos interessantes. Porém, pode ser o canto do cisne de um evento de luxo para o povo. Com um preço de paddock cada vez mais galopantemente alto e um acesso cada vez mais galopantemente baixo e curto - literalmente baixo, já que agora só os VIPs sobem ao primeiro andar; e curto, já que não posso ir até ao fim das boxes - esta foi a última vez que me apanharam por lá.
Resta-me, tal como quando era desempregado, espreitar através das redes (e não me refiro às sociais), ir à curva 1, à "curva da orelha", do café-clube nos ésses e antes da parabólica. Não pagarei, não me poderei queixar. O povo é assim: se o faisão é azedo, acaba sempre por ser feliz com pato.
“O Tribunal Constitucional da Polónia decidiu que, quando houver conflito legal entre a lei da União Europeia e a lei polaca, é a segunda que prevalece. A decisão foi recebida com choque em Bruxelas - e a palavra “Polexit” surgiu de novo na imprensa.”
O parágrafo encima um texto do Expresso sobre o mais recente episódio das difíceis relações entre os decisores da U.E. e os estados “problemáticos” do centro da Europa (sobretudo Polónia e Hungria). Chamou-me a atenção a expressão “choque”, à primeira vista algo desfasada, mas que, bem vistas as coisas, acaba por nos dizer muito sobre o atual estado da União Europeia. E é para esse estado que quero olhar, porque tem diretamente a ver connosco, e não tanto para as posições da Polónia, que podem ser controversas, mas são apenas posições nacionais. A verdade é que quando há “choque” por causa de uma decisão óbvia e totalmente legítima por parte de um estado independente então algo vai mal nos gabinetes de Bruxelas. A lei nacional sobrepor-se tratados internacionais é a regra entre estados soberanos. A U.E. ainda não é uma federação de estados à imagem dos E.U.A., com uma constituição comum a que todos devem dar a primazia. Concerteza que é um problema alguém assinar um tratado e depois não o cumprir (se for isso que estiver em causa, o que, sinceramente, não sei). Mas isso é assunto para tribunais. O que chama a atenção neste parágrafo é mesmo a palavra “choque”. “Choque” perante uma decisão legítima e democrática? Algo vai mal, muito mal, nos gabinetes de Bruxelas.
Ainda nem chegou o inverno, com os seus picos de consumo, e aí estão as primeiras consequências reais. Os cidadãos do Reino Unido, China e norte da Europa começam a perceber o que será o futuro próximo: energia a preços nunca vistos e escassez regular da mesma.
O desenvolvimento civilizacional que atingimos baseia-se em energia barata. Se a energia não for barata, a economia a trabalhar deixa as prateleiras dos supermercados vazias ou as casas sem aquecimento. A continuidade do modo de vida atual poderá não ser exequível e é difícil que as pessoas aceitem isso sem reagir.
Esperemos que corra tudo pelo melhor e que a transição para um mundo à base de energias renováveis seja pacifica.
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