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Small Church

Small Church

Cordame

(para o P.R.)

A porta estreita é aceitar Deus como amigo quando a mente tenta preferir a cura ao Seu acompanhamento na dor e na doença.  É nesse martírio que nos igualamos na igreja intemporal, essa soma de todos os tocados pela Boa Nova em que a Graça basta. As bem-aventuranças são cordame que nos rasga as mãos, atravessando século após século, sem conhecer outro milagre que não o suficiente sopro da amizade divina.   

O Efeito Máscara

Desde o primeiro momento que odiei a máscara. Irrita a pele, custa respirar, custa ainda mais falar. Não reconhecemos pessoas com quem convivemos há pouco tempo. Passarão pela nossa vida deixando menos que um sentimento. Não lhes vemos o sorriso, não percebemos por completo a expressão facial e por isso ficamos nas covas da comunicação.

Em contra-partida, e é oficial: é a primeira vez na minha vida adulta, já lá vão umas décadas, que atravesso um Inverno completo sem constipações, gripes, tosses ou dores de garganta.

Uma viga cedendo

16 de agosto de 2003

Nesse palco, nesse pátio de antes do mundo, irreconhecível pelas obras recém dirigidas, só o cheiro me conduz.
A avó faleceu. A família decidiu ficar com a casa. Fizeram-se as obras. Trocou-se o velho barracão de madeira, tosco, construído no início do universo pelos meus tios, tias e pais, por uma casa geométrica e certa. O galinheiro, desocupado desde que as pernas da avó o decidiram, desapareceu também. E as coelheiras. E as vigas apodrecidas de cedência vagarosa, suspirando exaustão de acidente.
Em vinte anos de vida ficou o cheiro de um anoitecer de agosto.
A Lua subindo perfeita envolta em luz laranja.
O calor surpreendido por uma aragem.
Um lugar perdeu a sua mente. A sua viga principal cedeu. A avó já cá não está.

Primado do Direito II

A minha avó costumava dizer «vivemos num cantinho do céu», pensando nos problemas que outros povos enfrentavam, como intempéries e guerras civis. Era também uma maneira de mostrar gratidão a Deus pelo que Ele tinha dado e decidido sobre a vida dela.

Cada um de nós tem de ir encontrando razões para também dizer «vivemos num cantinho do céu», como gratidão a Deus pelo que Ele nos permite viver.

Sobre a eutanásia, e pelas razões apresentadas para o seu veto, hoje é um bom dia para dizermos «vivemos num cantinho do céu».

Do outro lado da ponte

Escrevi este post há dois anos. A tristeza sistémica que me acometia já não se verifica.

Algo terá mudado no ambiente que facilitou essa melhora da disposição. Sem certezas, apostaria sobretudo nas crianças que estão mais crescidas e que não necessitam de tanta manutenção. Também a ausência do vicio que marcou trinta anos da minha vida e o perceber que voltar a publicar livros se tornou impossível terão sido importantes.

Existe, curiosa, a Fé que, comigo como clandestino, se encaminha para momentos de cada vez maior silêncio e serenidade de céu limpo com menor necessidade de palavras. O meu cristianismo é mistico e pragmático e não é fácil encontrar sorrisos iguais por aí. Tenho um amigo que se riria de mim, zombando como de inimigo, se me ouvisse ou lesse. 

Deverá ser por isso que também deixei de escrever aqui, por ter tão pouco para dizer, apesar de pensar em tanta coisa e existir um edificio dentro de mim de arquitetura misteriosa e construção em curso, tão supreendentemente sólido que ninguém de fora consegue ver. Não sou mais rico, nem profissionalmente mais realizado, não consigo já sonhar e a noção da minha insignificância é fio de prumo.

E, no entanto, é certo que nunca pensei que poderia ser feliz de um modo regular a ponto de se tornar hábito. E é isso que sou e sei que fica mal dizer isto, até porque não o pareço, mas a verdade é esta e a única máquina que conheço dentro dessa verdade é aquela que não espera nada de Deus, a não ser que me oiça quando falo com Ele, e que espera ainda menos de mim. 

       

Televisão, net e música

A televisão e a internet têm coisas boas. Afirmação óbvia que apenas precisa ser escrita aqui porque o mau que nelas existe às vezes parece avassalador. Mas, volto a repetir, têm coisas boas.

Em meados da década de 80, tinha a televisão em Portugal apenas dois canais, descobri a música cajun no “Música da América”, programa do já desaparecido Jaime Fernandes. Gravei uns trechos do programa numa cassete vídeo e, antes que, por descuido ou urgência, já não sei, a gravação fosse apagada, ainda tive tempo de a visionar o número de vezes suficiente para guardar na memória um nome – Balfa, e uns pedaços das suas melodias. Gostei e quis descobrir mais, mas, na época, nada havia à mão, pelo menos para o meu nível de empenho. Na viragem do século, lembro-me de pesquisar o assunto na net ainda nos seus primórdios. Mas foi escasso o que consegui, para pouco mais deu do que confirmar o nome Balfa como um dos maiores no género e para perceber, de forma genérica, o trajeto histórico destes americanos de língua francesa. Quanto à música, praticamente nada. Há uns meses, já não me recordo em que contexto, ocorreu-me voltar a repetir a pesquisa. O que encontrei foi o oposto da busca do início do século. Na altura, quase nada. Agora, quase tudo. Ao fim de alguns serões já dava para organizar um top 10 pessoal da música cajun. Confirmei que gostava.

O bom da televisão, voltando ao início, foi dar notícia e abrir o apetite para algo que, de outra forma, dificilmente me chegaria. O bom da net foi servir-me em casa uma enciclopédia capaz de satisfazer essa curiosidade. Positivas, então, a televisão e a net. Se fosse sempre assim…

Esta é a família Savoy: pai, mãe e dois filhos. Gosto, sobretudo, da mistura bem conseguida de informalismo e competência.

A UEFA tarda mas não falha

Afinal não houve racismo. Faz hoje precisamente três meses que um jogo da Liga dos Campeões foi interrompido por alegadas atitudes racistas de um elemento da equipa de arbitragem. Jogo interrompido, equipas que se recusaram a jogar e recolheram às cabinas, partida adiada 24 horas. A reação mediática desde o primeiro minuto foi de (quase) unânime condenação, tomando como boa a indignação unilateral, e sem contraditório, dos elementos da equipa turca. Afinal não houve racismo. Mas, ainda assim, houve castigo. Para o árbitro, perceba-se, que os que, sem fundamento, interromperam e abrigaram a adiar um jogo da multimilionária Liga dos Campeões, esses ficaram impunes. Castigo e trinta dias de campo de readucação, que uma boa formatação dá sempre jeito. Nada de novo, portanto, nestes tempos de confinamento moral - não é, Bernardo Silva?

Amnistia como atentado

"Cumprem-se, a 1 de Março, 25 anos sobre a aprovação pela maioria parlamentar composta pelo PS e pelo PCP, da amnistia aos condenados das Forças Populares 25 de Abril (FP-25 de Abril) – o maior grupo terrorista criado em Portugal em democracia e responsável, em gravidade e quantidade dos crimes perpetrados, pelo maior número de acusados, pelo maior volume de roubos e o maior numero de vítimas mortais".

Se tiverem dez minutos disponíveis leiam o texto todo, vale a pena. Não é uma parte bonita da nossa história recente, mas esquecer, minimizar, querer apagar, como tem sido feito, só aumenta a indignidade. 

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