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Small Church

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O Caminho

Para estreia efectiva do novo blog, nada melhor, nem mais estranho, que um post tão inesperado quanto etéreo. Nunca escrevi qualquer coisa tão arrojada e directa como aquilo que estou prestes a escrever. Nunca antes o “véu”, para usar uma expressão do João, foi tão fino ou, se calhar, tão inexistente. O assunto é a caminhada. Ou muito melhor, O Caminho.

 

Quando nos auto-intitulamos cristãos, seguidores de Cristo, e o fazemos de livre vontade, conhecendo as premissas do que isso quer dizer, a nossa vida mudou para sempre. Dois planos de vida são requeridos, e não apenas aquele em que a matéria reina.

Por isso, os assombros dessa mesma vida material, tão presentes como os outros que não se vêem, são frequentemente postos à prova das mais bizarras maneiras. É Deus que me protege ou sou eu que tenho a obrigação, dada por ele, de o fazer? Sou eu que busco o carro, a casa, as pessoas; ou é Ele o garante de todas as coisas? Quem é quem? Onde começa um e suas características e acaba outro, e por aí a diante. E nisto gera-se uma batalha.

Nos últimos anos, um engulho particular, próprio da matéria, tem-me servido de tropeço, constantemente: Sustento! A capacidade de gerar dinheiro. A nossa família, os nossos projectos. (Dele ou nossos? Nossos ou meus?) O último terço de década tem sido uma montanha-russa de emoções. De emprego precário em emprego precário, mais desemprego, de mau negócio em mau negócio me tem consumido a culpa, o dinheiro e as forças. E os tendões e as articulações.

E começa um processo. Um processo de conversas. Um jogo de risos e lágrimas. Em constância. De zanga em zanga, de dúvida em dúvida, de certeza em certeza, a Verdade vai revelando as suas feições. E as dores acumulam-se, produtos da ignorância.

Porém, se estivermos dispostos, da dor nasce o crescimento, e da perseguição intencional do companheirismo com Deus, a verdadeira afeição. Um melhor auto-conhecimento, para simplificar. Sobe de intensidade a luz da intimidade. Lentamente, vamos percebendo o plano ou uma pequena parte dele. Pressentimos que não é realmente sobre nós, mas somos nós, sim, convidados de luxo, integrados na primeira fila em algo que nos inclui embora não consigamos abranger como.

Este foi um ano para esquecer, mas também um ano para nunca mais deixar de recordar. Com um vírus letal de rédea longa à solta pelo mundo, com meio século vivido e com as minhas baixas capacidades, pelo menos a avaliar pelo que os condicionalismos destes meandros proferem, fui o escolhido para três empregos em nove meses, o que é, virtualmente, impossível! Sim, isso mesmo, um milagre. Um deles foi hoje, pelo que estou a horas de mais um swing. Mais bem pago, mais perto de casa e a fazer aquilo que gostaria de fazer, tudo em oposição com o anterior emprego. Na verdade, sei agora, devido a tantas perguntas e respostas trocadas com o Criador, que não fui eu a conseguir fosse o que fosse. Fui enformado, martelado, intencionalmente, para dentro de um processo de crescimento e aprendizagem. E a melhor parte é que o final não é forçosamente um final feliz. Ou melhor, é um final feliz sem o viveram felizes para sempre, pelo simples facto de que nada é permanente e tudo se recomeça a cada manhã. Sem certezas ou garantias. Amanhã é outro ano. Melhor: Amanhã é outro dia. Começando com uma nova esperança, sim, mas com desconhecimento total de como acabará. E este é o sal da vida. O segredo da aventura. Estar conscientemente contente e grato, mesmo sabendo que não sei. Ir ao colo, sabendo que amanhã é inimaginável. Apenas confiar que tudo o que acontecer me levará a algum lado que preciso de ir. Mas não por causa do destino: Por causa de O Caminho.

Sorte ou não?

Podemos agora compreender que a Terra continuou a ser compatível com a vida durante tanto tempo devido, pelo menos em parte, à sorte”, dizem os cientistas da Universidade de Southampton, num estudo publicado no Nature jornal Communivations Earth & Environment.

Sorte. Acaso - a sorte é a faceta favorável do acaso.

"Bastante intrigante”, assim definem os cientistas ingleses o facto de a Terra ter conseguido manter condições favoráveis à vida durante tanto tempo.

Intrigante. Que provoca perplexidade. Curiosidade não satisfeita.

Perante algo que não conseguem compreender os cientistas argumentam com a “sorte”. Não digo que esteja errado, na perspetiva de a ciência procurar explicações e estar aberta a todas as respostas. Sendo assim, o acaso é uma das respostas possíveis. Mas não é a única, há mais possibilidades em aberto. E aqui está meu ponto: porquê a redução ao acaso de tudo aquilo que não se consegue explicar? Porque não, por exemplo, a possibilidade de uma inteligência externa ter conduzido o processo de forma a obter o resultado desejado? É esta hipótese menos racional/científica do que a “sorte”? 

Caoutchouc

Numa pesquisa na net, numa das curvas e contracurvas em que somos levados (ou nos deixamos levar), descobri a origem da palavra catchú, uma das entradas obrigatórias no dicionário da minha infância. Vem do francês caoutchouc, e significa borracha, material derivado do latex. Catchú era o nome que dávamos às bolas de futebol topo de gama, como hoje diríamos, iguais, pelo menos no aspeto, às usadas pelos jogadores profissionais. Não cheguei a jogar com bolas de trapos, como as gerações anteriores, mas a bola que habitualmente tínhamos à disposição, a que usávamos nos jogos na rua, era muito heterodoxa tanto quanto ao material que a constituía, andava entre o plástico e a borracha, como em relação à dimensão e à forma (o mais próximo da esfera era a nossa escolha). A bola de catchú (na verdade escreve-se cauchu), e que numa versão mais livre de alguns companheiros de brincadeira também se podia pronunciar catchumbo, essa bola era a que ambicionávamos para os nossos desafios futebolísticos. Era pesada, resistente, feita de gomos de cabedal (ou produto similar) cosidos e revestida com o tal material aborrachado (ou, no mínimo, pintadas), e, muito importante, tinha a dimensão próxima das oficiais. Se ela aparecia, era raro, mas às vezes aparecia, então o jogo ganhava outra dignidade e nós sentíamo-nos mais à vontade para imaginar que éramos o Nené, o Chalana ou o Jordão. Claro que o feliz possuidor de uma bola de catchú tinha acesso direto à titularidade na equipa, o que causava alguns sentimentos antagónicos: por um lado, queríamos jogar com a bola; por outro, não gostávamos de ver o nosso lugar em risco ou a equipa ficar mais fraca. Mas isso eram dilemas menores. O importante era que aparecesse a bola e que o jogo começasse.

Natal 2020

Nasceu  o Redentor! Nasceu o Redentor!

O eterno Pai do Céu seu Filho ao mundo deu.

Alerta, ò terra, entoa nova alegre e boa:

Nasceu o Redentor! *

 

Um Natal diferente?

Um Natal com pormenores diferentes, sim: as restrições ao convívio familar, as dificuldades financeiras, de alguns, a ansiedade quanto ao futuro, de muitos.

Na essência, um Natal igual a todos os outros. Nasceu o Redentor. A boa nova não muda, a esperança permanece.    

 

* Refrão do hino 28 do Cantor Cristão.

Pacto com a Felicidade 15 – A Esperança nas mãos de Bruce Hornsby and The Range

Banda norte-americana. Uma interpretação ao piano magistral e certeira acompanhando palavras que nos dizem que não devemos acreditar que a exclusão social é inevitável. Uma canção da década de 80 feita de uma têmpera perfeita do metal forjado com a força da música e das palavras. A esperança deste piano será difícil de igualar.

Sem sucesso, e não tendo eu as capacidades e artes para o fazer, procuro artistas cristãos portugueses que tenham este tipo de preocupações, urgência e equilíbrio. Sei que os irei encontrar. Talvez baste ter mais atenção.

Luzes de Natal

E a nós, Seus espetadores nessa contemplação do consolo, é pedido que corrijamos as nossas trajetórias para O conseguirmos seguir melhor na leveza dos seus movimentos.   

Chega-se lá de porte humilde e olhar sorridente. Os passos tocam o chão como pequenas gotas na tentativa de não incomodar as maravilhas que volteiam em redor. Somos os que nada temos que nos diferencie a não ser o amor que Ele tem por nós.

Oh, aí está! Gracioso, rodando lentamente de olhos fechados, impelido pela Sua compaixão que antes nos deu a Criação e agora espalha luzes à Sua passagem, nunca redundantes, sempre de cores admiráveis. Vemos que é gigante, vemos que é menino. Faz-se luz. Faz-se rasgo no Templo.

Os Seus ombros servirão para nos levar quando estivermos cegos de uma dor que não queremos e que chegará. Entretanto, vemos como dança e reparamos que outros nos olham como se quisessem aprender. 

Pneus e Restaurantes

Esta questão de que metade dos restaurantes pode vir a fechar nos próximos meses é muito grave e séria, que nos deixa a todos tristes e preocupados, mas... caro Liubomir e seus amigos do tacho, o senhor que fez nome e carreira a ser malcriado, está a queixar-se de ver o dedo do meio do Governo?! Bem, há que dizer que não é por causa dos chefs e dos gourmets de trazer por casa que estou preocupado. O meu problema é o Fernando!

Não sabe quem é? O Fernando é aquele tipo com quem você implica a rir, dando-lhe umas palmadas no cachaço, porque só veste roupa da Primark. Aquele que um chef amigo seu contratou há quinze anos a troco de salário mínimo, não sabe? Aquele tipo que conduz o mesmo Fiat Punto que conduzia quando ele o contratou e que não há meio de conseguir trocar. Bem, talvez porque ainda continua a ganhar o mesmo salário mínimo apesar de a inflação não parar de subir devagarinho, junto com as especulações do mercado imobiliário, fazendo com que o garrote se aperte, junto com o cinto, deixando-o, esse sim, a pão e água.

O Fernando? O Fernando é o gajo que, mesmo nunca tendo andado numa guerra, está sempre triste e tem as mãos cheias de cortes. O tipo que verdadeiramente lhe faz os tempêros, que atura birras e asneiradas alcoólicas e ainda serve ao balcão. Aquele que chega a casa de periferia a más horas e vê os filhos já a dormir devido a aquele horário marado, que lhe parte os dias todos ao meio, e que bem pode agradecer aos seus amigos da televisão que ficam até às quinhentas no bistro a beber piñas-coladas, a arrotar piadas de mau gosto sobre gajas e que levantarão o coiro da cama depois do meio-dia.

Em suma, Liubomir, o que me dói não é que o gourmetzeco passe a andar de Audi em vez de Porsche. Aliás, isso não me dói mesmo nada. O que me dói é que dezenas, centenas de milhares de Fernandos andem anos a desejar um jogo traseiro da Good Year, para que meia dúzia de gourmets possam manter uma Michelin.

E no fim? No fim ainda ficam desempregados.

Teoria de Desconspiração

Se o recentíssimo vírus covid-19 tivesse origem no hábito de comer macacos, Joachim Löw já teria contraído a doença algumas décadas atrás.

E aí está: desmontada mais uma teoria da desconspiração.

As impressões indiscutíveis

Se se achar que alguém foi racista, não é preciso ouvir as suas explicações do que poderá ser um mal-entendido. Foi isto que se passou no famigerado jogo das Champions: um homem a tentar explicar a dezenas de outros que lhe gritavam, e sem ser ouvido, que não tinha usado um termo racista. Ainda bem que ninguém deu o primeiro encontrão no homem porque o efeito de grupo poderia ter levado a algo de consequências graves.

2020 trouxe à sociedade ocidental o primeiro assunto social em que é admitido, sem contraditório, que o diálogo acerca do mesmo não é possível. Outros se seguirão. 

Irritante

Mais irritante que rebanhos de meninas de onze anos a coreografarem ao mesmo tempo a dança do tik-tok, e a padronizarem-se todas iguaizinhas pelo mundo fora, independentemente da cor da pele, credo ou nível social, só mesmo a música, de apenas oito compassos e imaginação igual a zero, e que é, por isso, um caso de estudo.

Infelizmente, o raio do jingle, mais a sua cornetinha sintética acabada de chegar dos quintos dos infernos, têm a propriedade de se agarrar a tudo o que é memória neuronal e por isso a capacidade de martelar a nossa mioleira, horas a fio, mesmo muitos dias depois de, ainda que por acidente, a termos ouvido.

Perante a existência deste plano esganiçado, engendrado por belzebu, até os discursos de Marisa Matias se assemelham a concertos de harpa e dança, e as reuniões de Luis Filipe Vieira e Pinto da Costa a fins de semana no campo entre bons amigos.

Enfim, se exposto a isto, o famoso vírus pandémico de 2020 talvez sucumba. Será que já alguém colocou a hipótese? Já ouvi coisas mais absurdas. Vamos, cientistas! Uni-vos. Mas cuidado: só de tampões...

O ponto em que estamos (continuação)

Vinte e quatro horas depois, a tendência, pelo que se vê, é manter o rumo. Sem surpresa para mim (ainda que uma ténue esperança de que alguém toque no óbvio teime em brilhar – sim, eu sei, posso esperar sentado…*). Entretanto, a cereja no topo do bolo foram as declarações do governo romeno que, sem esperar pela averiguação cabal dos factos, emitiu um pedido de desculpa em nome do “desporto romeno” (quantas vezes os governantes romenos pediram desculpa pelos crimes de cidadãos seus no estrangeiro? - e estou a falar de crimes graves, homicídios, por exemplo). “Condenamos com firmeza qualquer tipo de expressão ou declaração que possa ser considerada racista ou discriminatória”. Ressalto o pormenor surreal de “possa ser considerada”. Já não estamos na fase em que se responde por atos ou palavras concretas, agora o que vale é a “consideração”, a interpretação, alheia, os critérios subjetivos de terceiros, que se forem expressos com a apropriada dose de indignação então servem mesmo como sentença definitiva e sem apelo. No fundo, tudo isto conflui para o grande rio que desagua na censura e na tirania: é-se julgado por aquilo que se é, ou por aquilo que os outros dizem que se é, e não pelos factos objetivos que se produzem. É assim que estamos, e parece que o rumo é para manter.

*Uma honrosa exceção: Jorge Jesus. As palavras desassombradas do técnico benfiquista são as de um homem livre. Se estão certas ou erradas, não interessa. São de um homem livre. Que contraste com o enorme exército de servos que reproduzem a voz do dono, tapando com a veemência o medo do castigo.

O ponto em que estamos

Acaba de acontecer em França, tem minutos. Um jogo das Liga dos Campeões foi interrompido porque o quarto árbitro, para identificar ao árbitro principal um jogador para eventual cartão amarelo, referiu-se a ele como "o negro". Jogo interrompido, a equipa visitante recolhe aos balneários e muita tinta a correr nos próximos dias. Independentemente dos desenvolvimentos que se seguem, a constatação necessária de que chagámos a isto, ao absurdo. E chegámos sem surpresas, apenas o desfecho lógico de muitos passos anteriores a que demasiadas pessoas sensatas fecharam os olhos - por genuína convicção, por complacência ou por comodismo. A verdade é que chegámos a isto. É agora o tempo para mudar? Ou mantemos o rumo?

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