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Small Church

Small Church

Escrever contra, escrever para

 A minha visão do mundo é turva exceto quando escrevo outros mundos. 

Quando Leonor se deita, o Silêncio da Serra desce dos topos das fragas com uma agilidade de urgência. Entra de rompante no pequeno quarto, onde encontra o Escuro de Outubro, que chegara primeiro. Os dois não se ferem na sua acomodação difícil e inquieta de feras, tolerando-se aos pés da cama de Leonor. São bestas formidáveis e audazes que arriscam tudo enquanto a observam. Ela, de olhos bem abertos, enfrenta-os maravilhada até adormecer.

Joshua Slocum nos Açores

“Cheguei aos Açores na estação da fruta, e não tardei a ter a bordo mais fruta de todas as espécies do que eu podia comer. Os ilhéus são sempre as pessoas mais bondosas do mundo, e nunca encontrei mais bondosas dos que os bons corações deste lugar. O povo dos Açores não é uma comunidade muito rica. O fardo dos impostos é pesado, com escassos privilégios em troca, e o ar que respiram é a única coisa livre de imposto. A metrópole nem sequer permite que tenham um porto de entrada para um serviço de correio estrangeiro. Um paquete que passe pertíssimo com correio para a Horta tem de o entregar primeiro em Lisboa, ostensivamente para ser desinfetado, mas na verdade por causa da tarifa do paquete. As cartas que enviei da Horta chegaram aos Estados Unidos seis dias depois da minha carta de Gibraltar, enviada treze dias depois.”

 

Um trecho de um dos clássicos da literatura de viagens, Sailing Alone Around the World, de Joshua Slocum, em que o autor descreve a sua breve experiência nos Açores. Achei interessante o retrato: um povo simpático, com quem o visita, e sobrecarregado de impostos e centralismo burocrático. Não vos diz nada? Parece que de 1895, quando o velejador aportou no Faial, até agora pouco mudou. Na altura era a monarquia, depois veio revolução republicana, a seguir a ditadura do Estado Novo, e, por fim, a democracia, que já leva quase 50 anos. Depois disto tudo, o retrato dos portugueses não difere no essencial. Será o destino? Ou a falta de mão nele?

Dias Perigosos

Nem uma linha de jornal, nem um minuto de rádio ou 10 segundos de televisão dos media nacionais que irão receber subsídio. Não concordo que sejam financiados por nós, seja através do Partido Socialista, seja através de qualquer outro partido.

Um Jesus Marcelo

Este não é um post político. Este é um post teológico. Só para avisar.

Há aqueles que ganham um lugar no quentinho do coração da opinião pública. Como cachorrinhos invencíveis na sua fofura irresistível, são aqueles que seguram o otimismo de jornal. São importantes porque conseguem fazer a bilis das redações recuar. Ninguém, nem mesmo um jornalista engajado politicamente, é capaz de maltratar um cachorrinho. E se alguém o fizer merece morrer.

O sinal inicial que nos permiite identificar  os recrutas da nossa melhor boa vontade é simples: o uso do primeiro nome. Aí está o Jerónimo, a Frida, a Sophia, a Dilma, a Agustina, a Hillary, o bom Marcelo, a Greta (que para mim será sempre uma missionária holandesa com quem o meu pai trabalhou no bairro de Santa Filomena na década de 80 do século passado), a Cristina ou a mais recente fôfa, a Jacinda

O tratamento na imprensa e na cultura pelo primeiro nome implica uma familiaridade ao alcance de muito poucos. Implica também uma grande condescendência e, desde logo, a certeza de que o escrutínio será mais lasso ou inexistente. Afinal, quem é que não perdoa o chichi no tapete da sala a um cachorrinho de semanas? 

Penso nisto e encontro o paralelo com o cristianismo. Aqueles que tratam Jesus como seu amigo e não o consideram Cristo, esse portento brutal, definitivo e que já existia muitos milhares de anos antes de Jesus nascer. Para muitos, para demasiados,  e segundo o que tenho ouvido a vida inteira, Jesus acabou por ser colocado no lugar de Cristo. No fundo, uma espécie de Marcelo elástico no abraço até ao infinito, servindo para rececionar os achaques emocionais de cada um nas Hillsong desta vida. Enquanto isso, Cristo, a essência, vai sendo apagado só posso imaginar para que horror de Jesus.

Joana Marques Vidal

Pode parecer, mas não é. Este não é um post político. Esquerda e direita aqui não interessam nada, nem as cogitações partido-ideológicas. Escrevo estas linhas mais como uma espécie de desabafo - um cidadão a desabafar. A verdade é que isto chegou a tal ponto ("isto" é o panorama político nacional) que ficar impávido e não tentar qualquer coisa parece pior do que arriscar, por pouco que seja. No caso, o tal desabafo, que deixo em forma de pergunta: o que acham da ex-Procuradora Geral da República, Joana Marques Vidal, para Presidente da República? Realço-lhe três qualidades fundamentais para o cargo: séria, competente e imune a pressões (por estas razões não foi reconduzida no cargo de Procuradora). Para o papel de árbitro, que é, constitucionalmente, o papel do Presidente, perece adquear-se bem. Com a vantagem de ser mulher. Ao fim de quase 50 anos de democracia não ficava mal ter uma senhora em Belém. O que acham?

Sala de espera - VI

- … e eu estava de tal maneira que nem conseguia comer. Qualquer coisa que me caía no estômago vinha logo cá para fora…

- … na saúde ainda menos mal. O que me tem atormentado é a pouca sorte do meu filho. Aquela com quem ele está agora só lhe tem feito a vida negra…

- … era um tormento. E os médicos a mandarem-me fazer exames, a mandarem-me fazer análises, e nada, não havia maneira de se dar com o mal…

- … ele por ele já não é muito orientado, e ela, em vez de ajudar, ainda veio fazer pior. Se quer que lhe diga, não sei onde aquilo vai parar…

- … não sabia mesmo o que havia de fazer. Só pedia aos santinhos que me dessem força para ir tratando da família porque, de resto, já não tinha disposição para nada…

- … tanta falta de juízo. E maldade! Ela é má, mesmo má! Acredita que conseguiu que ele deixasse de falar comigo?! E se fala é só "bom dia”, “boa tarde”, quase como se eu fosse uma desconhecida…

Sentadas nas cadeiras da sala de espera as senhoras falam. Parece que conversam mas apenas falam. O que dizem cruza-se sem se tocar. Os ouvidos não escutam, são meros detetores de pausas, de momentos sem palavras, oportunidades para elas tomarem as rédeas da conversa. Falar. As senhoras querem falar e vão simulando uma conversa. Dois solos fingindo ser um dueto.

Descida de temperatura global

abril.jpg

 

Entretanto, numa outra versão do planeta Terra que a população em geral nunca irá conhecer, a temperatura global medida por satélite teve, no conjunto de março e abril, a 2ª maior queda de temperatura média desde que este tipo de medição começou (497 meses).

Existe uma justaposição do Covid-19 com a baixa de temperatura e uma questão começa a surgir com mais insistência: será que é a atividade humana quotidiana, e não o CO2, que determina a variação da temperatura ?  Seria uma notícia fantástica. E uma outra: uma vez que as medições de CO2 demonstram a continuação de tendência de aumento ao mesmo ritmo do pré covid 19, o que é que isso quer dizer em relação ao real impacto da atividade humana nos níveis de CO2?

 

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