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Small Church

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Clichés infantis

Há outros caminhos, mas conheço este tão cheio de lugares comuns como verdadeiro.

Estar exposto diariamente à curiosidade de crianças parece fazer parte de um plano natural. Elas facilitam a religação à nossa natureza mais primordial, reacendendo os mecanismos da celebração da vida sem a bengala do entretenimento ou da arte.

Para as crianças os dias nascem embebidos, saturados, por um fascínio inquestionável. O habitar o Reino dos Céus, o sermos como elas, manifesta-se numa agradecida curiosidade de recém-chegado.

Estar exposto a crianças e perder a oportunidade de ser transformado é uma tragédia. Arrefecer os gestos de uma criança e mutilar a sua espontânea felicidade pela vida é um grande mal. Se faz lembrar o “melhor lhe seria amarrar uma pedra de moinho no pescoço e se afogar nas profundezas do mar”  funde-se também no coração o peso incandescente da compaixão por essa outrora criança capaz de maltratar, agora assim tão surda à voz de Deus.

Título exemplar

O título da notícia: 2020 poderá ser o ano mais quente desde que há registo.

Reparem no “poderá”. Trata-se de uma projeção, feita com base nos dados recolhidos em janeiro, fevereiro e março, um quarto dos doze meses do ano. À primeira vista parece um pouco arriscado trazer o título para primeiro plano com bases tão pouco sólidas. Pelo menos para o conceito comum de jornalismo. Num panfleto religioso ou político, estaria bem. Num jornal parece bastante desfasado. Lendo a notícia confirmamos a sua pouca solidez. Afinal as probabilidades de concretização do “poderá” variam entre os 75 e os 50 por cento. Já é alguma coisa, dirão alguns. Bom, na verdade não é assim tanto. Durante grande parte do ano passado, entrando por janeiro de 2020 dentro, estas mesmas organizações garantiam, com os meios de comunicação a servirem de megafone, que 2019 seria/era/tinha sido o ano mais quente de sempre. Não foi. Como era de esperar, o falhanço nas previsões não deu direito a título algum e talvez muitos dos que escutaram as previsões para 2019 pensem ainda que elas se concretizaram. Ironicamente, o texto da notícia revela-nos que o ano mais quente de sempre foi 2016. Aparece por ali, ao correr da notícia, como se o facto fosse do conhecimento geral. Do mal o menos, digo eu, um bocadinho de dados concretos e seguros para variar.

O panfletismo em forma de jornal continua no subtítulo da notícia. ”Apesar do confinamento e da paragem causada pela pandemia, a crise climática não deve ser esquecida”. Ou seja, e deixando os rodeios e indo direto ao assunto, é preciso que as preocupações com a pandemia, e com o que depois dela virá, não levem as pessoas a desvalorizar o combate à crise climática. Os milhares de milhões que foram garantidos pelo ativismo global para combater o aquecimento global correm o risco de serem usados noutras prioridades. Os governos, pressionados pelos eleitores, tenderão o aplicar os recursos existentes no combate a coisas como o desemprego, a pobreza ou a própria epidemia. E a crise climática corre o risco de passar para segundo plano. O jornalista, qual ativista, levanta o cartaz o mais alto que pode para que as gentes não esqueçam o assunto.

De facto, um título (e subtítulo) exemplar.

A proximidade em conjunto do fim

Certamente que não. De certeza que não. Nunca achei isto antes e a respiração é um pouco diferente da de quando pensava que tudo iria correr bem com este lado do mundo e com a nossa civilização. 

O materialismo é só uma corrente transitória de pensamento e está a chegar ao seu limite. Não consigo expulsar a ideia de que talvez a Covid-19 não tivesse o sucesso que está a ter em qualquer outro período. É que os hábitos que definem a felicidade são os de multidão (festivais de música, centros comerciais, eventos desportivos, a época balnear), os cosmopolitas (o turismo e as viagens de negócios internacionais), os de consumo transoceânico (os gadgets comprados à china,  a cultura adquirida na amazon americana, as bananas da costa rica, o Rolex, o iphone, o Tesla). Foi por estas estradas que o vírus se propagou. O vírus vive porque o materialismo das pessoas é o principal que elas têm.

O sucesso dentro da mente submete-se a uma necessidade com características de soma infinita. Ambiciona-se a próxima compra, ou roubo, e aqui estamos nós numa sociedade de abundância como nenhuma  em que a ideia de que precisaremos sempre de mais para nos sentirmos satisfeitos é transversal, apesar de sabermos que isso, de algum modo, não faz sentido. Não parece importar que esteja individualmente nas nossas mãos a mudança de hábitos que permitam, por exemplo, que o ambiente não seja tão maltratado (um caminho de consumir menos, andar mais devagar e cingir-se a uma economia baseada na preferência da proximidade). O importante é manter e multiplicar o que já temos porque, afinal, a dignidade, ensinam-nos desde pequenos, está dependente do que possuímos.

Não me parece que haja solução para o problema e acho, como disse acima, e pela primeira vez, que algo de dramático é inevitável porque não só o ambiente não aguentará a pressão de tanto consumo, como a nossa parte do jogo, a cultura materialista ocidental, estará cada vez mais dependente de uma cadeia sistémica que, por ser tão desmesurada e global, irá falhar outras vezes e de formas cada vez mais espetaculares em ventos impressionantes de miséria mental e em calores irrespiráveis de desemprego e carência para milhões.

Podia viver em silêncio com isto. Afinal, estou em paz com a ideia da brevidade da vida e de como esta é preciosa. Digo-o desta vez, porém, porque nunca tinha percebido a amplitude do desastre. Há um inimigo, ele escolheu-nos e vai tentar tudo para que à nossa volta e dentro de nós impere a falta de harmonia. A sua ideia é sermos abandonados, desorientados e sem consolo, nas ruínas do que poderíamos ter sido. Entretanto, sem sequer nos apercebermos, vamos sendo usados por ele como ferramentas para criar ruínas alheias. Igrejas, partidos políticos, família, amizades, ONG, vizinhança ou religiões, nenhuma relação é descartada como meio. Acredito nisto e que o materialismo permitiu-lhe fazer com que exista cada vez mais gente a vaguear em terrenos inóspitos e sem abrigo à vista. A solução é antiga e natural mas há poucas pessoas no mundo a conhecê-la com o coração e é por isso que acho que sim, que o problema não irá ser solucionado.    

A Casta

Como uma casta superior, que não tem que se sujeitar às regras impostas à restante população, os dirigem (governo, presidente da república e assembleia da república) reuniram-se hoje para, em tempo de confinamento, participarem nas cerimónias comemorativas do 25 de abril.

Que, por causa do confinamento, os outros tenham que abdicar de cerimónias importantes não lhes interessou. Queriam comemorar o 25 de abril e comemoraram o 25 de abril. Era importante para eles. Para os outros também há cerimónias importantes: os funerais de entes queridos, os casamentos, os cultos religiosos. Mas, lá está, a casta é a casta, e se é importante para ela as regras gerais ficam em segundo plano e levantam-se as restrições. Os outros que aguentem.

Talvez a casta ache que não há problema em agir desta maneira e que a disparidade de tratamento talvez até faça parte da natureza das coisas. Mas não faz. Está errado. Em democracia, está errado. No fundo, falta mesmo “cumprir abril”. A arrogância da casta é uma das provas.

Lembrar Abril é lembrar 3 datas

Lembrar Abril é lembrar 3 datas.

Hoje é o dia 25 de Abril de 2020. Em Portugal é feriado nacional, pois lembramos sempre com orgulho e gratidão o dia 25 de Abril de 1974 (46 anos). Para os portugueses este dia é sinónimo de liberdade, de libertação de um sistema político de partido único, sem liberdade de expressão, política e outras.

O Dia 25 de Abril significa o dia em que uma ditadura de 45 anos acabou, e uma perspetiva de democracia se apresentou aos portugueses.

A outra data a lembrar é o 25 de Abril de 1975, que é a data das primeiras eleições livres como as concebemos hoje. Foi a eleição da Assembleia Constituinte, que iria aprovar a nossa Constituição um ano depois. Este é talvez o momento mais relevante das 3 datas, pois foi aqui que finalmente o povo pode falar e decidir. E não uma Ditadura ou uma Junta Militar. Mas sem Abril de 74 não é possível haver Abril de 75. E por isso celebramos Abril de 1974.

A terceira data a lembrar é o 25 de Novembro de 1975. Esta é a data que faz perceber a todo o país que não é possível voltar atrás, e o poder irá passar para a sociedade civil e o povo. O nosso destino vai ser aquele que o povo escolheu, por via das eleições para a constituinte. E não o que uma elite achava que devia ser.

A data que deu início a tudo isto foi o 25 de Abril de 1974. E por isso o celebramos, por esta memória. Mas também pela memória, devemos lembrar que sem as outras duas datas não celebraríamos todos o 25 de Abril de 1974 hoje.

Quebrantados? Ainda bem.

O visionamento do documentário poderá provocar uma sensação de tristeza, até depressão, que são sensações típicas quando uma esperança passa a ser vista como uma ilusão.

A grande promessa, a grande esperança de salvar o planeta, um mundo a funcionar à base de energias renováveis, afinal não passa de uma fábula para fazer adormecer jovens universitários à noite. E todos quiseram acreditar, porque assim é mais confortável. Por alguma razão especial continuamos a cair na lenga-lenga de que é mais fácil encontrar solução para mudar o mundo e salvar o planeta, do que solução para mudar os nossos estilos de vida.

O nosso orgulho humano precisa do ego afagado por estes grandes projectos. Coisas pequenas, com passos adequados às nossas limitações? Nã, isso é uma perda de tempo. Rapidamente saltam das energias renováveis, para «a redução da população é que vai resolver tudo». E lá voltaremos à mesma ilusão, com possivelmente mais uma abominação feita em nome dessa ilusão, deixando mais uma mancha na nossa alma.

Nestes tempos de Covid19 voltamos também a ouvir o mesmo nas igrejas, comunidades cristãs e similares. Agora é que é o fim dos tempos, vai tudo consumar-se agora. Também aqui é mais fácil aplicar o Apocalipse ao mundo inteiro (mesmo que esse mundo inteiro seja somente os EUA ou a Europa), numa operação global e grandiosa. Invés de primeiro perceber o que significa para mim, para quem está à minha volta, e principalmente o que me diz sobre Deus. Num tique adolescente, nós somos a geração eleita que vai viver isto tudo. Até, claro, aparecer a geração eleita seguinte.

Desde quando a nossa salvação pessoal deixou de ser o suficiente para nós? Desde quando o que Deus nos dá, seja materialmente, seja em orientações éticas de como viver e conviver, deixou de ser suficiente para nós?

Quebrantados? Ainda bem. Jesus veio pelos deprimidos e sem esperança.

«Porque não te comprazes em sacrifícios, senão eu os daria; tu não te deleitas em holocaustos. Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus»  Salmo 51.16-17

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