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Small Church

Small Church

A prova definitiva da reencarnação

Uma vida anterior. Um sentimento desmesurado de pertença que galgou margens sem piedade. A estranha, contranatura e indesejável nostalgia a arrastar-me para lugares em que a terra onde os meus pés assentavam era só o lugar de onde se partia para voar. Foi há muito tempo o que originou o único “Onde poderia ter chegado se tivesse continuado”  que carrego comigo para onde quer que vá.    

Uma linha chamada Joacine Moreira

Sinto-me desanimado, mas só um pouco quase nada, com as mais recentes prestações de Joacine Moreira e do Livre. A impreparação para a função de representação é juízo razoável a retirar do que tem acontecido.

Não me permito colocar em bicos de pés de modo a que, por engano, me considerem sábio. No entanto, talvez seja relevante a observação de que um discurso baseado em causas identitárias atrai, e não é paradoxo, um tipo de pessoas com modo de estar individualista, narcisíco e oportunista disfarçado, que leva sempre a que aconteça fragmentação. Neste exemplo de nova esquerda autofágica e fractal chamado Livre à moda de Joacine, a dissensão foi incrivelmente rápida a encontrar opressões internas, o que surpreendeu tudo e todos. Era esperado, claro, mas não com uma distância tão curta para o ato eleitoral de outubro.  

 A única deputada do Livre é como um segmento de reta desenhado com um comprimento propositada e provocatoriamente bizarro para atrair as populações universitárias de Humanidades urbanitas. Tivesse sido por falta de cuidado ou por desejo imoderado e incontrolável de poder, o lápis acaba não só de rasgar o papel como também de saír da folha.

Depois de dizer hoje que o que se passa é um golpe, a deputada passa a ser uma caricatura e bem o merece pela sua falta de noção no que se estava a meter e falta de conhecimento elementar do que é a política. Felizmente para a nossa sanidade mental, a vitimização aparente de Joacine, e porque seria mau demais, não deverá chegar a usar as tradicionais cartas do racismo, colonialismo, fascismo ou misoginia contra o Livre. O partido desculpará e a deputada ficar-se-á pela teoria conspirativa contra si. Se por alguma razão o partido lhe retirar a confiança e ela ficar como independente, se a sua personaldiade a levar a esse desvairo, só depois de alvo de muita chacota nacional permanente, quem sabe uns seis meses, é que virá a dar o braço a torcer, altura em que já fará parte do anedotário nacional.

Um Palácio Chamado Desilusão

"Rainha Isabel II terá "perdido o controlo" do palácio, diz especialista." (in Sapo Lifestyle)

E é bem verdade! Já há uns bons anos atrás, o primeiro sinal de alerta tinha sido dado quando o palácio foi apanhado numa esquina, não muito longe de Trafalgar Square, a fumar um charro na companhia de amigos de "qualidade duvidosa", para usar de um eufemismo. Depois, e até pela pressão de outros palácios reais, antigos companheiros de pólo e caça à raposa, tudo pareceu melhorar e voltar a entrar nos eixos, até que cerca de um ano atrás, por alturas do Boxing Day, a imprensa inglesa, com particular insistência do insidioso The Sun, noticiava-se um escândalo envolvendo tráfico de cottages de Inverno e até pequenos solares ajardinados, via marítima para as Américas, em contentores, numa mega-operação criminosa gerida na dark-web por palacetes manhosos de Sussex. Daí para cá foi um espiral negro de conspirações, traições e contradições na imprensa, para desgaste e desgosto de toda a família real.

Na origem de toda esta degradação, diz-se nas ruas de Londres, e poderá muito bem ser uma explicação plausível, estará um episódio de proibição por parte da catedral de Westminster, na altura longe dos ouvidos dos tablóides, de uma relação extra-conjugal do palácio com um pequeno castelo plebeu na Escócia, todo construído em pedra vulcânica.

A Voz do Trovão

Foi ontem de madrugada. Deviam ser cerca das duas da manhã, quando, sem mais nuvens ou outros anúncios extraordinários de precipitação, que acordei com um trovão que foi, seguramente, o maior que já ouvi.

O sono devia estar leve naquele momento. Acordei rapidamente, muito a tempo de o ouvir todo. Uma enorme explosão. O seu eco, de poder glorioso, permaneceu abanando toda a minha casa durante uns vinte segundos. Juro.

O mais impossível, além de todo aquele som irreproduzível pela Marvel às mãos de Thor, foi a junção do absoluto silêncio em que se deu, como um aviso divino, fazendo uma apresentação em contraste com todos os ruídos do dia-a-dia. Tive a sensação de estar, por momentos, na presença de Deus, dizendo-me que tivesse atenção à vida. Aquele local e tempo de encontro foram escolhidos e nada pude fazer para o evitar, mesmo que quisesse. Uma sarça ardente. Uma escada, com anjos subindo e descendo. Uma visão, com cordeiros alvos, serafins e sêlos de livros por abrir.

Anónimo e sem data de embarque prevista

Será que a mais pequena se irá lembrar? Um dia poderei ouvir “Pai, não te consigo imaginar a fumar.” Não é isso que oiço acerca do Rock n’ Roll que toquei em cima de palcos, da minha obsessão em desenhar automóveis, dos meus anos de estudante de teologia, de uma adolescência deprimida e fantasiosa de suicídio que ninguém da família viu ou de ser hoje pai de uma rapariga de 20 anos?

Vou deixando o que fiz em sítios que não fixo.

Deus só pode ser conhecido através da mente e a sua participação não é observável. Felizmente, não sou um dos seus preferidos. Deus, que não tem peso, quer de mim muito menos do que julguei e, como meu amigo, só quer que eu cumpra da melhor forma forma possível este tempo em que o coração bate. Como gosto da amizade de Deus! 

Quieto, já sem a esperança que tudo atrapalha, de pés assentes no dia, vou mudando o que faço, enamorado pelo que vou conhecendo e me espanta, alegrando-me com a consciência de que vivo na melhor era da humanidade para um curioso deslumbrado como eu. 

À La João Leal

Não me queria aqui armar em "João Leal", até porque há só um e é inimitável, visto que se partiu o molde quando saiu cá pra fora, mas fiquei com vontade de meter uma daquelas cenas que ele mete, tipo "Pactos da Felicidade", e tal. Não resisto a repostar esta preciosidade da nossa juventude.

Para quem não gostar... calma, não fique triste, ligue na Rádio Cidade, que deve estar a passar lá algo muito bom para si.

Pensamento PAN BFF

Por causa da insensatez da velha história que é levar o cão a passear na rua para oberar à porta dos outros, ouvi a inqualificável frase: "Haviam era de matar o cão e enterrá-lo à porta do dono."

Ora, visto que os donos são os responsáveis pelos seus animais, este pensamento é de uma grande injustiça, cruel, indigno de uma sociedade humanista, e até revela princípios de ordem moral desorientados.

Para sermos justos, humanos e consequentes, haviamos era de considerar matar o dono e enterrá-lo à porta da casota do cão.

O produto que se segue

Com o final da Guerra Fria deixou de existir uma luta que fosse agregadora de grandes multidões transnacionais. A população ocidental deu por si a ressacar de uma constante ameaça de uma guerra nuclear. Antes da ameaça de uma III Guerra Mundial existia a religião cristã dentro da cabeça da maioria das pessoas. Há dois mil anos que a Igreja carregava o facho do Apocalipse e se encarregava de transmitir a convicção de que a degeneração geracional em curso (fosse qual fosse o ano em que se estivesse) era o sinal principal da chegada breve do Anticristo. Mas agora, em 1989, se já não havia religião a que voltar, continuava a ser necessário encontrar algo em que concentrar a moralidade apocalíptica, certamente manca, porque sem uma noção divina e metafisica, mas ainda assim urgente para o sentido de propósito das pessoas. Estas estavam habituadas à vertigem de lutar contra o fim e precisavam de algo novo.
Folheio o jornal. Confirmo que o assunto parece estar por todo o lado. Os governos coletam mais dinheiro, as empresas exploram a publicidade virtuosa e a necessidade moral de combater o Mal e estar do lado do Bem pode ser definida e endereçada. Sempre se conseguiu substituir a ameaça nuclear. Já existe um novo Apocalipse a ser usado por todos os viciados na infelicidade.
A ideia é simples e, portanto, elegante. Resume-se a isto: o dióxido de carbono que a civilização produz é responsável pelas alterações climáticas que irão matar a prazo milhões de pessoas e destruir muitas espécies da fauna e flora. De alguma forma espantosa, a ideia simples foi adotada sem reservas e tornou-se um facto sem possibilidade de discussão. É um dogma.
Mas e se a teoria não estiver correta? E se as temperaturas deixarem de subir o tão pouco que têm subido ou começarem mesmo a descer? Imagino o dia a seguir à saída do relatório da ONU a dar conta de que não se baixaram as emissões e a temperatura há dez anos que está a descer. Imagino indignação e motins por todo o planeta. Afinal, os sacrifícios tinham sido todos em vão. Depois o Zé diz-me que não seria assim. Ele acha que a noticia seria dada nesse dia e que no a seguir já ninguém falaria sobre o assunto. Acabo por concordar com ele e fico a imaginar qual o Apocalipse seguinte que nos iriam vender e esbarro na Inteligência Artificial e no papel semidivino que se preparam para lhe atribuir na resolução dos problemas, injustiças e desigualdades. E então é a minha vez: dou por mim a pensar no número 666 e tudo. Finalmente, um Apocalipse capaz de me encher as medidas.

O dilema

Estranho o silêncio. Vou ver se está tudo bem. A de 9 anos está deitada no chão a ler o “Toda a Mafalda”. Não digo nada e ela não dá por mim. Vou à procura da de 5, que está a desenhar na sua mesa.

Passam-se talvez 20 minutos e a mais nova aparece a pedir comida. Lembro-me da outra e dou com ela na mesma posição e a ler o mesmo livro. Pergunto-lhe se está a gostar e se percebe o humor. Ela responde que mais ou menos.

Já na cozinha, dou por mim satisfeito por o gosto pelo trabalho de Quino estar a ser passado para a nova geração Leal. Depois caio em mim e um arrepio percorre-me a espinha. De certeza que não preciso que a Mafalda, a contestaria, seja um exemplo para esta criança que ainda na semana passada, arregimentando a irmã, organizou cá em casa uma greve com cartazes, piquete, caderno de reivindicações e negociação com a entidade patronal de modo a ser viabilizada a construção de um forte no seu quarto com todas cadeiras da casa, cobertores, mantas, sacos cama e almofadas onde pretendiam dormir durante o resto da semana.  

Suspeito que, pelo sim, pelo não, a passagem de testemunho será interrompida. Talvez o livro vá desaparecer durante uns anos. Evitar mandar Mafalada para cima daquela fogueira chamada Clara é do mais elementar bom senso. 

I-Robot

Uma coisa que se esperava do Web Summit, era que trouxesse - de novo - a discussão sobre robots: Afinal, as máquinas devem ter direitos, ou não?

É claro que tenho a minha opinião. Mas isso não vem ao caso. Bimbys e aspiradores uni-vos!

Entretanto, aviso já que, se a Sofia pode passar a ter cartão de cidadão e descontos nas entradas nos museus, a minha máquina de fazer pão também não é de desdenhar de ter direitos: Além de não ter cor política, alimenta a malta cá em casa e é bem mais bonita.

Ó sim, apesar de não ter polegares oponíveis, ou discernimento possível para ir ao multibanco gerir a sua conta, mas visto o meu robot de cozinha ser eficiente na sua função, se isto der aso a subsídios, candidato-me já a ser eu o seu legal gestor.

Emergência

Ontem à noite, no jornal da noite da RTP2, uma peça digna da televisão estatal (não há outra) da Coreia do Norte.

O início.

Começo incisivo. Sobre as habituais imagens de glaciares a desmoronarem no mar, inundações, lixo espalhado, um golfinho com um saco de plástico na boca (desta vez esqueceram-se do urso polar), a terra gretada com uma poça de água no meio, sobre estas imagens cliché a voz off começa, perentória: “Não é apenas mais um alerta para o que todos já sabem mas muitos teimam ignorar”. Está dado o mote. Se “11000 cientistas, entre os quais 220 portugueses, alertam para o estado de emergência climática” então não é preciso analisar o conteúdo, o que é preciso é passar a mensagem.

Entra em cena apresentadora. Acrescenta mais algumas palavras corroborando a voz off e passa à entrevista. O entrevistado, um dos tais 220 cientistas portugueses, é engenheiro no Politécnico de Coimbra. Engenheiro? Esperem: então os engenheiros também são cientistas? E os formados em História, em Sociologia, em Medicina, em Economia, em Silvicultura, em Fisioterapia também podem assinar o documento e ser considerados cientistas habilitados a pronunciarem-se sobre o clima? Bom, então se for assim “11000 cientistas” vale tanto como “11000 funcionários públicos” ou “11000 bombeiros”. Todos têm direito à opinião. A não ser que a palavra “cientista” esteja ali apenas como uma espécie de sinete papal, um aviso/anúncio que o assunto é para aceitar tal como é apresentado, não é para ser discutido. Talvez seja também por isso que não há contraditório.

O conteúdo.

O entrevistado fala das consequências das alterações climáticas (parece que o que fizermos agora para minorar o problema só vai ter efeitos práticos a partir do próximo século) e resume em dois pontos as ações globais para não agravar a situação: o regresso à frugalidade e a desaceleração vigorosa (zero, se possível) no crescimento demográfico. Aprecio-lhe a frontalidade e a capacidade de síntese mas fico a pensar no irrealismo de tais metas à luz da natureza humana. A apresentadora, escrupulosa com a cartilha oficial, ainda vai buscar Trump e o Acordo de Paris, mas o entrevistado não lhe dá grande saída.

A conclusão.

A apresentadora quer saber se há consenso na comunidade científica sobre as causas das alterações climáticas. O entrevistado responde que 98% concorda que as causas são antropogénicas. No entanto, há uma minoria, os tais 2%, ou menos, que, assumindo as alterações climáticas, considera que o motivo não é a atividade humana. Termina alertando para as teorias da conspiração que parte dessa minoria promove, insinuando interesses obscuros por detrás de iniciativas com a presente. “Os seus argumentos seguramente desmontaram essas teorias”, responde, solícita, a apresentadora, fechando com chave de ouro uma peça de “jornalismo” que Kim Jong-un não desdenharia.

Ahura Mazda por esse inverno

De volta à escrita, vou reunindo o material necessário.

Tento aprender um pouco mais sobre as Leis da Termodinâmica e se a hipótese do Multiverso, com a ideia de que a gravidade se escapa entre universos, passará o crivo da credibilidade. Ao mesmo tempo mergulho no Zoroastrismo, nesse contexto fascinante de Ahura Mazda, e na influência das religiões pagãs dos proto cananeus na construção do judaísmo.

Gigantes, deuses, universos paralelos e as consequências da Inteligência Artificial ganhar auto-domínio: duvido que esteja ao meu alcance uma melhor forma de ocupar o inverno que se aproxima.

As frases que só se dizem uma vez

Por vezes acontece dizer uma coisa e ter a noção de que nunca mais a direi com propriedade. Como no email enviado esta tarde em que escrevi a um dos irmãos "Mantém-se. Não vou à Argentina."

Parece-me linha de diálogo de agente secreto, um dos meus sonhos de carreira aos 13 anos. Ao menos isso, já que esta oportunidade perdida de, com os meus 3 irmãos, visitar a terra da minha avó, só muito dificilmente se colocará de novo.   

Pelo menos, fica o sorriso do adolescente.

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