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Small Church

Small Church

Crucifixo de pano sob fundo do dia que acaba

Talvez não pudesse ter sido de outro modo. Suponho que não, que o vidro fosco que nos embotava a visão não iria deixar de lá estar mesmo que fôssemos mais valentes. Recolhemos da chuva, ainda assim, menos calma e perspicácia do teria sido o melhor, (o melhor, então sempre para lá da nossa compreensão).

Por exemplo, falhámos em tanta coisa. Não só como pianos com algumas cordas em falta. Não só como um passe demasiado longo que sai pela lateral. Não só como um gesto tremente de quem não sabe como domar a angústia. Não só como insetos imóveis no âmbar. Falhámos, eu e tu, logo no início: não na perceção de que nunca seríamos capazes de ombrear com os gigantes, mas na constante de pequenez que nos auto atribuímos nas nossas regras físicas particulares.

Concedo que seja tarde demais para a música, para a escrita ou para o mistério da combinação das linhas e das cores. Outros mundos nasceram, aparecendo de surpresa, tenazes de alegria e sorrisos, suaves como o toque de uma palma de mão na nossa testa.

(temos quem nos trate da febre. E esta?)

(falo de harmonia, acreditas?)

Talvez não pudesse ter sido de outro modo. Suponho que não, que o vidro fosco ainda nos enevoe os dias apesar da nossa indesmentível coragem. Devíamos brindar ao som do Landslide e depois atirar os copos à parede e pisarmos os cacos com o Starla em fundo.

Para VB

Hoje de manhã, numa longa, húmida e produtiva caminhada, com muito VB e Castor71, percebi que o meu espertofóne não tem volume suficiente para o Pisces Iscariot e as guitarras de Corgan.

Um Soco Doloroso no Estômago às Voltas

Pensava que esse gajo já não existia. Aquele tipo paradoxal do cabelo comprido e pontas espigadas. Aquele jovem contraditório a quem a vida aleijava e deixava aleijado só pelo simples facto de que tudo não era perfeito. Aquele ser que devia ter vergonha de saber tudo não sabendo nada. Aquele rapaz feito de milhões de blocos minúsculos de solidão que nunca se encaixavam sem divina cola e que jamais verdadeiramente entendeu os outros ou a si próprio.

Aquele ser feito farrapos de carne, tripas e ossos todos juntos, fita-colados de pele. Aquele miúdo com borbulhas e fones que já não consegue contar a sua história. Aquele que já não sonha nem alguma vez alcançou o que em tempos sonhou.

Está de volta. Não sei que lhe faça.

Sala de espera - V

Homem bem entreado nos setenta, cabelo escasso e branco, cumprimentou-me e, ato contínuo, puxou a cadeira:

- Importa-se que me sente? É que com isto das dores só estou bem sentado...

- Faça favor, a cadeira está aí para ser usada.

- Isto da vida tem coisas engraçadas. Quando era mais novo brincava com o meu sogro por ele ter um banco em cada canto da casa. Tinha um na cozinha, outro debaixo do sobreiro, outro junto à churrasqueira... Eu brincava com ele mas agora estou na mesma. Até digo que esses bancos foram a melhor coisa que o meu sogro me deixou.

Capitalismo

20190619_130020.jpg

Pode ter sido sem querer. Mas parece-me uma extraordinária instalação sobre Capitalismo sobre a qual nem a Colecção Berardo desdenharia.

Castanho

"Joana Barrios volta a pintar o cabelo de castanho e conta-nos o porquê".

Não me dei ao trabalho de ler a notícia para além do título, é verdade. Mea culpa. Mas a avaliar pelo facto de que aparece nas notícias do Sapo, a razão deste anunciável regresso deve ser algo de muito especial para o mundo.

Daí eu lançar este desafio aos leitores deste blog: Vamos adivinhar qual a razão (muito importante, claro) para esta figura pública ter mudado a cor do cabelo para castanho. (Nunca tinha ouvido falar da personagem, mas se está nas notícias não deverá ser só por ser amiga da pessoa que mete as notícias.) Quem se atreve a descobrir a razão de voltar ao castanho? Não vale fazer batota e ir ler a notícia!

 

Pintar o cabelo de castanho?... Mal sabia a minha mãe que passou toda a vida a ser elegível para aparecer nas notícias a qualquer momento!

Até que chegue, estarei aqui

Eis a minha religião que nada sabe acerca da morte, da natureza da alma, do mundo espiritual e que não se curva a livros. Eis a minha religião capaz de imaginar que há alguém total, de características metafísicas únicas, que nunca se mostra e que é capaz de me ouvir e influenciar o modo como eu vivo.

Deus. Que palavra esta! A mais deslumbrante e disputada e a menos capaz no nomear.

Antes que os braços da catástrofe me agarrem e empurrem o rosto contra o chão, e os meus ossos se quebrem, e o desespero me faça gritar por misericórdia, e a loucura da dor e da minha fraqueza me reclame, estarei nesta casa de silêncio, luminoso espaço de janelas altas e conforto de passos ecoando nos tetos antigos, atento à tão ínfima revelação divina. O espírito de Deus, esse sopro quieto e reservado, é lido pela minha mente em cada sala e quarto, em cada pedaço escondido do jardim, suficiente, bastante, perfeito.

Não preciso saber mais do que isto.

Em nome de Quê

Há nomes bem apropriados, ou que são, precisamente, inapropriados. Por exemplo, "Carlos Moedas", parece-me um nome que assenta como um luva, para o antigo ministro das finanças. Já "Centeno" não fica bem em alguém que passa a vida a lidar com milhões. "Pinto Monteiro" ficaria melhor em alguém que se dedicasse a hortas e a debicar alpista, lá na terra. Ou, o Primeiro Ministro que "apunhalou" António Seguro à traição, chamar-se precisamente "Costa". Por falar em "António Seguro", esse nome assentaria melhor em alguém com poucas hesitações. Ou "Manuel Alegre" com aquele contraditório mau feitio. Já por outro lado, "Diogo Feio" é um daqueles nomes que faz parecer que os pais tinham dons de profecia.

 

Depois há também aqueles nomes engraçados que já os nossos pais diziam, como "Passos Dias Aguiar" para um motorista de taxis; "Pinto Ramos de Oliveira" para um pintor de exteriores; "Rolando Caio da Rocha" para um alpinista; "Domingos Dias Santos" para um padre.

 

"Henrique - Cimentos" é uma empresa de bom augúrio e prosperidade, de certeza. "Lúcio Bacalhau Robalo" a gerir um viveiro de trutas é engraçado. "Sabrina Botas" a trabalhar numa sapataria também faz rir. "Clara Branca das Neves" dá uma boa marca a vestidos de noiva. Assim como "Silva Pereira" ou "Castanheira Valverde" bons nomes de agricultor. "Davide Parreira" como agente vinícola. Olívia Oliveira como RP de um marca de azeite. "Ferreira Martelo" com uma bigorna à frente. "Pires Carneiro" numa cervejaria. "Judas da Cruz" numa sacristia. "Barros Faria" numa olaria. "Conceição (São) Bernardo" a trabalhar num canil.

"Parente Cunha" é óbvio, "Castro Torres" também. Mas "Machado Pinheiro" deixa algumas dúvidas. Já "Laranjeira Gomes" numa frutaria parece bem. "Raposo do Monte" e "Coelho do Prado" são bastante biológicos. Ainda mais, só um geólogo chamado "Pedro Rocha Penedo". Ou "Rosa Espinho da Silva". "Vanda Lisa" é um bom nome para uma sócia da Juve Leo. A sra. "Eva Lopes" ter uma papelaria é bestial e "Futre" a fazer anúncios a produtos que aumentam a libído, não lhe fica atrás (principalmente em França). E que dizer da "Fábrica de Chinelos Felipe F. Lopes"? Fica no ouvido ou não?...

A partida do Príncipe da Pérsia

Estou a vê-lo sentado ao seu sintetizador. Estou a ouvi-lo cantar Under Pressure no seu horrível falsete.

 

Recebo a notícia de que o Roger morreu. Estava gravemente doente há uns meses. Nem Deus nem a ciência o curaram.

Fomos muito próximos na adolescência e juventude e voltámos a aproximar-nos quando ele ficou doente. Foi muito importante na minha vida, o que lhe pude dizer há quatro dias atrás, na nossa derradeira troca de email. 

Havia uma boa amizade entre nós.

Foi a pessoa mais inteligente que conheci até hoje. Sempre foi um bom rapaz e um bom homem. Tinha bom coração e um sentido de humor muito particular que usava sem parcimónia.

Chamo-lhe para mim de Príncipe da Pérsia porque foi numa noite em que jogávamos esse jogo em rede numa vivenda em Colares, que ele me surpreendeu e me ensinou uma das grandes lições da minha vida. Devíamos ter uns 15 anos.

O Roger era um grande apreciador dos Queen. Lembrei-me dele de cada vez que ouvi uma música da banda de Freddy Mercury nos últimos 30 anos. Vai continuar a ser assim. 

 

 

 

A alegria da imprensa

 

A imprensa é aquele velho amigo que sempre conhecemos amargo e rabugento. Um dia aparece com um sorriso estelar e idiota e percebemos de imediato que está apaixonado. Neste caso, a imprensa está apaixonada pela conjuntura que saiu das eleições.

A solução governativa mantém-se, o que não é nada mau para os jornalistas. O governo socialista que passou foi o que menos asneiras fez, talvez por ter como ministro das finanças Centeno, que calhou ser ministro socialista mas que ninguém se espantaria se tivesse sido ministro social democrata. O facto da imprensa ter Bloco e Socialistas do mesmo lado acalma, criando um consenso alargado e sem tensões entre a ideologia dominante nas redações.

A imprensa deve ainda estar satisfeita com a perspetiva de ter André Ventura em quem arrear. A chegada do Chega é uma daquelas raras situações em que todos ganham. A não ser que se dê a surpresa de o homem ser comedido, cínico e muito inteligente, os media terão para explorar vários poços sem fundo de prosa e imagem e comentário e auto satisfação e sinalização de virtude para os seus pares. Os sacos de pancada feitos de extrema direita são os melhores de todos porque existe o consenso de que podem ser usados até rebentarem, isto é, de que a piedade não se aplica a fascistas. Ganhará também Ventura porque, como é óbvio, o ricochete será muito violento e o modo desregulado como os media abusarão do novo brinquedo acabará por ser responsável pela vintena de deputados do Chega nas próximas legislativas, com o grande momento de se perceber que os ganhos vieram em grande parte do eleitorado comunista. Os jornalistas ganharão pelas vendas, cliques e mérito anti fascista e André ganhará poder político.

Existe ainda a deputada eleita pelo Livre. O Bloco de Esquerda arranhou os temas, mas as gémeas Mortágua são brancas e foram criadas no Alentejo. Não têm nem de perto, nem de longe tantos pontos como Joacine, que só não é perfeita como imagem de marca porque, que eu saiba, não é transexual. Ela é o primeiro colono de uma espécie nova no panorama parlamentar do nosso país. Embora com basta tradição de uma década nas culturas mais avançadas (Grã-Bretanha, Estados Unidos e França, por exemplo), a hipótese de se poder dizer que o comentário de alguém que critique Joacine é, antes de qualquer análise racional, misógino, racista ou colonialista, ou as três coisas juntas em casos especiais, deverá ser esperado. Passarão a existir novas formas laterais de diálogo e pruridos. Haverá cada vez mais, e a cada dia que passa, referências a “patriarcado”, “privilégio do homem branco”, “colonialismo”, “reparações” e coisas do género (literalmente).

A malta dos media, mais do que adorar a modernidade e a sofisticação, vive para as oportunidades de educar o povo com os valores certos. Joacine e Ventura funcionarão como tiro de partida para esta mini idade de ouro da imprensa nacional.  

 

 

 

A imposição do politicamente correcto à realidade

Depois da notícia de proposta de castigo a Bernardo Silva pela FA o jogador recebeu o apoio dos seus adeptos. Num evento público com milhares de pessoas a relacionarem-se e dialogarem como é um jogo de futebol, houve grande saudação à entrada do português mas também mensagens de crítica ao castigo.

Curiosamente (ou não) a transmissão televisiva não teve autorização para passar essas mensagens.

Dia de Reflexão

A minha reflexão para hoje é a seguinte: se os liberais e a extrema-direita conseguirem entrar no Parlamento nada será como dantes na política portuguesa. Em quatro dias termina uma época (com a morte de Freitas do Amaral) e pode começar outra.

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