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Small Church

Small Church

A próxima revolução vai ser a maior

Vivemos tempos espantosos. Todos estes factos são inevitáveis.

Vamos imaginar que dentro de um ano a cura para o cancro não só está disponível, como custa bem menos do que os tratamentos atuais. Agora, demos um passo até daqui a uma década, altura em que o envelhecimento, considerado como uma doença, já tem tratamento e qualquer um pode optar por viver centenas de anos. Juntemos então a evolução tecnológica, com a Inteligência Artificial e a robótica já em plena expansão por todas as áreas da sociedade.

As questões morais e civilizacionais são gigantescas. Os comportamentos e reações sociais a tudo isto são imprevisíveis.

Para mim, só peço mais duas décadas. Só mais vinte anos para assistir e participar na maior mudança da História da Humanidade. 

Sala de espera - I

Notava-se que havia sido um homem grande. Bem entrado nos oitenta, oitenta e muitos, a sua altura ainda era acima da média. Mãos grandes, cabeça grande, peito largo. Não era difícil imaginá-lo com trinta anos: direito, atlético, metro e noventa bem medido, passando altivo entre os vizinhos na aldeia, todos, no mínimo, um palmo mais abaixo. Agora estava curvado, andava devagar e apoiado numa canadiana. O cinquentão que o acompanhava brincou com ele em voz alta:

- Este homem andava com barris de mais de cinquenta quilos às costas, parava à conversa com os barris às costas, e agora não pode com um copo de vinho!

- É uma tristeza, uma tristeza… - concedia o velho. O desapontamento era verdadeiro, notava-se no olhar e na voz. Desapontamento de quem já sentira poderoso, forte, o mais forte, e agora precisava de ajuda para uma simples ida ao médico e ainda tinha que ouvir aquelas bocas e calar.

 Um Sansão, pensei eu. Um Sansão a quem o tempo tinha cortado o cabelo.  

História Geral e Melancólica de Fevereiro

Desde pequeno, talvez desde a pré-adolescência, que fico abatido e triste durante janeiro e fevereiro. Espero com impaciência por março, mês em que o ânimo volta ao estado normal. Mas é preciso ter cuidado com março. Se era durante os dois primeiros meses que os pensamentos suicidas apareciam, por vezes com uma força estranha que hoje tanto me espanta, o terceiro tem-me trazido uma euforia reformista que eu só consigo comparar a uma rolha de espumante a sair desvairada depois de uma daquelas pessoas a que se costuma chamar a alma da festa a libertar após ter a melhor notícia do mundo. Todas as grandes alterações na minha vida nasceram nesse período e nem sempre foram as mais fixes. Pelo contrário, trouxeram muita dor e preocupação imerecidas aos outros, e muito remorso e culpa para eu colocar naquela mochila que não é possível pousar.

Nos últimos anos tenho sido competente a lidar com essa tristeza profunda de quem perdeu todos os que ama e com essa euforia de quem foi salvo in extremis de morte certa. Quase ninguém se apercebe que aquele tipo sorridente e cordial com quem convive está, na verdade, a fazer magia do tipo ótico e não passa de uma lesma triste e melancólica (haverá alguma imagem mais precisa do que esta em tudo o que já escrevi até hoje?) que se arrasta à sua frente, suspirando pensamentos tão tristes quanto involuntários, embora tentando sempre ser puxada para cima, para um sorriso ou uma gargalhada. Talvez mais evidentes, as resoluções de mudança precoces têm sido aplacadas com bom senso e também com magia, desta vez não minha, mas uma aplicada por três ou quatro pessoas a quem sei que tenho de escutar mais do que a mim mesmo.

Por estes dias, triste sem opção, olho para mim mesmo com um misto de curiosidade e impaciência. Olho para essa melancolia, cada vez mais bem definida, cada vez mais ineficaz para além de um suspiro ou incapacidade de procurar alegria no momento.

Observo-me de fora e tenho pena de ter percebido tão tarde. Mas, enfim, é melhor saber do que não saber. É melhor saber resistir do que fingir que não existe, mesmo que fevereiro nem sequer tenha ainda começado.

Abusando da Ciência

Historicamente o homem sempre tentou encontrar explicações para o mundo. A procura de explicações é sempre algo positivo, pois revela sentido de descoberta, de risco, e espaço para a fé e a crença trabalharem. Esta procura acaba por ser um espaço de diálogo entre Homem e Deus, em que Deus desafia o Homem a arriscar e sair da sua zona de conforto, e procurar respostas que só Deus tem para dar.

No entanto, historicamente também são muitos os exemplos em que a demanda e aventura de procura de respostas são substituídas por uma necessidade de segurança do Homem, e assim de controlo de tudo o que existe. É uma luta antiga: está o homem pronto a reconhecer as suas limitações e abdicar da ilusão de controlo da sua vida? Está pronto a reconhecer que só Deus tem as respostas, e que precisa da ajuda de Deus para ir entendendo as respostas?

Os ídolos que criamos nas nossas vidas, e ocupam um lugar que deveria ser de Deus, são criados com este propósito duplo: de nos dar uma ilusão de controlo, e não nos obrigar a enfrentar a nossa condição de criaturas limitadas e imperfeitas.

A Ciência é o exemplo de uma coisa boa, que pode ser (e tem sido) transformada num ídolo, pervertendo as próprias regras do método científico, o seu propósito e o seu espírito. A apropriação do método científico como ideologia, como no caso do Positivismo relatado na artigo de Nuno Crato, em vez de uma procura da verdade acaba por promover um estabelecimento da verdade já pré-definida. Pré-estabelece-se um deus que se adequa aos nossos interesses, cujos comportamentos podem ser previstos e, assim, controlados.

Observamos hoje em dia isto em várias dimensões no nosso mundo. Um exemplo é o domínio da Política Ambiental, em que conceitos como ‘consenso’, que simboliza exatamente o oposto do espírito científico de arriscar o ‘establishment’, são aberta e publicamente associados ao científico. Com o objetivo de legitimar visões do mundo mais preocupadas com a ideia de controlo do Homem.

Biblicamente somos ensinados que a Sabedoria dos homens é ilusória (1 Coríntios 3:9), que a tentativa de controlo de tudo é vã (livro de Eclesiastes), e que a própria vivência do cristão e sua santificação, em semelhança ao método científico, é um processo de constante teste e evitar da conformidade (Romanos 12:2).

Deste modo é interessante observar que o método científico e a procura de Deus, não são concorrentes, mas antes cooperantes. E quando nos quiserem fazer crer o contrário, então é altura de nos questionarmos a que deus convém que pensemos assim?

A Lua foi uma colónia Nazi - Avistamentos

Nota: o meu interesse no fenómeno Ovni e na existência de extraterrestres tem a ver com a minha curiosidade pelo comportamento humano e pela sua incrível capacidade em acreditar no que o bom senso considera inacreditável. Eu não acredito em ovnis e em extraterrestres. O título da série tem a ver com uma das mais espetaculares especulações da comunidade da ufologia segundo a qual os nazis teriam capacidades técnicas para voos interestelares e que após a sua derrota na 2ª Guerra Mundial teriam construído colónias na Lua, em Marte e na Antártida.

 

Este é um belo exemplo de uma parte muito importante do fenómeno ovni: os chamados avistamentos.

 

A web aumentou exponencialmente o interesse à volta dos assuntos relacionados com extraterrestres e ovnis. Se até há 20 anos atrás só existiam livros e o Jornal do Incrível para tratar o assunto, atualmente existem centenas de canais e sítios totalmente dedicados ao tema onde são descarregadas, diariamente, dezenas de novas imagens de supostos avistamentos de ovnis. Este tipo de vídeos vai da mais elementar e tosca tentativa de enganar a elaboradas utilizações com imagens geradas por computador (CGI). De luzes no céu a gigantescas naves espaciais caça clique a pairar sobre cidades, são muito poucos os casos que permitam uma dúvida razoável. Isto porque a própria comunidade se encarrega de apresentar, analisar e desconstruir montagens ou explicar o aparente avistamento com tentativas de enganar o pessoal, com fenómenos naturais ou de origem em atividades humana.

 

As imagens que não podem ser explicadas são quase inexistentes, daí que valha a pena referir uma filmagem divulgada há quinze dias e que é considerada a melhor de sempre, uma vez que a sua veracidade, isto é, a ausência de montagem, já foi comprovada por dezenas de analistas e especialistas em vídeo. Ou melhor, ainda ninguém conseguiu demonstrar que é uma montagem.

 

A filmagem é de 2016, mas só agora foi tornada pública. Segundo o autor, o ovni foi filmado inadvertidamente por um drone no contexto da realização de um documentário. O primeiro vídeo contém a filmagem e o segundo uma análise técnica.

 

Viagens a Maceira - I

Por uma estrada que leva a um lugar do passado, vão duas gerações: o pai já atingiu o meio século de vida, o filho já gastou quase toda a sua fúria adolescente e começa a mostrar a sua pessoa definitiva. Apesar das muitas coisas que fazem em conjunto, ambos começam a sentir-se estranhos na presença um do outro, um afasta-se para dar espaço, o outro isola-se para criar o seu espaço.

O rádio do carro está ligado, mas vive-se como se tudo estivesse em silêncio, e vai-se mudando entre estações de rádio e ficheiros mp3, sem procurar nada em especial. Até que surge uma música que os acorda. É do final anos setenta, o teledisco oficial mostra uns tipos barbudos de longos cabelos até aos ombros, nenhum dos dois tem algo a haver com essa estética, mas a letra e a melodia são universais: Logical Song dos Supertramp.

Se ambos já iam calados, ficaram ainda mais imóveis, concentrados em absorver a magia que invadiu o ambiente.

O pai recordou a sua juventude, lembrou-se de ter visto o teledisco na televisão, talvez ainda a preto e branco. Depois sentiu uma nostalgia enorme pelo que ele era nesse tempo, por todo o otimismo e esperança que ele carregava nesses anos. Depois sentiu uma enorme alegria por estar ali o seu filho.

O filho ninguém sabe o que pensou, talvez um dia saibamos no decorrer de um jantar de família.

Mas pela minha experiência, sei, que quando um adolescente ouve mais do que 10 segundos de uma música, alguma coisa o tocou, alguma coisa extraordinária está a acontecer.

Ninguém mexeu mais no rádio. Aquela música foi deixada ir até ao fim.

E o momento ficou para a posteridade.

No resto do dia ouve outros momentos inesperados: um adolescente a varrer voluntariamente e de boa vontade um pátio cheio de folhas e ervas secas ...  só possível pelas forças do bem ali presentes; um adolescente a fazer considerações inesperadamente favoráveis sobre uma casa de aldeia, pequena, fria e com 70 anos ...  só possível pelas forças do bem ali presentes.

As duas gerações voltaram a estar juntas, cooperando conseguiram ter sucesso na tarefa que as tinha levado até ali.

E o dia ficou para a posteridade.

The Players Tribune

O The Players Tribune é um site que acompanho faz algum tempo. Como o nome indica, dá voz e espaço aos atletas. São os atletas que escrevem os artigos, e definem o tema e como é apresentado. Falam sobre muitas dimensões da sua vivência, e é interessante acompanhar algumas das reflexões deste homens e mulheres sobre histórias reais da competição/competidor, em comparação com as histórias ficcionadas que várias vezes temos nos meios de comunicação.

Hoje, João Félix participa. Não coloco aqui por ser jogador do Benfica, mas por ser um jovem atleta português, de uma realidade que nos é mais próxima, e deste modo podermos identificar melhor com o que ele escreve.

A explicação

António Costa fala em “constipação e risco de pneumonia”, os comentadores de serviço avisam para o “provável arrefecimento”, gente mais independente confirma que “isto está por arames”. É oficial: a festa acabou (ou, por que estamos em ano eleitoral, a festa vai acabar).

Próximo acto será arranjar as desculpas. E algumas já começam a rodar por aí. O Brexit, o Trump, porque é o Trump e porque anda a destabilizar a economia mundial, a indefinição politica na Alemanha, os “populismos” na Itália e na Hungria, o Bolsonaro, que é amigo do Trump, a França de Macron, que não resultou, como se esperava, como “motor do ressurgimento europeu”, o capitalismo bolsista, que está sempre à mão para estas situações, e outros figurantes de costas largas habitualmente chamados ao palco em momentos de aperto.

É uma boa altura para lembrar as palavras de Passos Coelho logo no início da geringonça. Dizia ele que este governo não poderia ser bem sucedido porque, manietado pelo Bloco e pelo PCP (e parte do PS, digo eu), não conseguiria fazer as reformas necessárias para tornar o país mais forte e mais resistentes aos altos e baixos (normais) da economia mundial. Estava certo. E esta é a principal explicação para a festa que vai acabar.

(Para quem ache que estou a ser demasiado simplista proponho a história dos três porquinhos. Se Costa construísse a casa com tijolo, o sopro não a deitaria abaixo. Mas ele construiu-a com palha, e palha qb, que a orçamento não estica e festa estava prometida).

Do Bairro da Jamaica à Bela Vista, com cuidado

Acho absurda a condenação feita pelo PSD a Mortágua. Populismo é isso também. Todavia a sequência de acontecimentos não é só esclarecedora, mas também razão de um alerta sério e responsável.

Ainda no próprio dia, e após ouvir Joana Mortágua a falar à Antena 1 acerca do episódio, pensei que teria sido tão bom se ela não tivesse dito o que disse. É que na mesma semana, Catarina Martins e Marisa Matias esclareceram em entrevistas que o Bloco não é extrema-esquerda nem populista. É lícito que elas achem isso, afinal as pessoas são livres de pensar o que quiserem, mas fica difícil para mim aceitar com Mortágua, uma deputada, a emitir julgamentos antes ainda da investigação interna da PSP ter começado. Se a isto se juntar a declaração do SOS Racismo, num primeiro momento, e de um seu dirigente, e assessor do Bloco, depois, chegamos à conclusão de que alguém devia avisar as pobres almas Marisa e Catarina de que há grandes probabilidades de estarem enganadas.

Não faço ligação entre as declarações e os apedrejamentos na avenida da Liberdade, com os carros incendiados em Odivelas e Póvoa da Sto Adrião ou da esquadra que foi atacada. Mas faço-o entre as reações mesmo muito violentas nas caixas de comentários contra os negros. E é aí que reside a irresponsabilidade de Joana e do presidente do SOS Racismo, porque só pode querer dizer que, ou são só palermas que ainda não perceberam em que mundo mediático vivem, ou são perversos que, à custa de idiotas úteis prontos para a violência, procuram capitalizar estatuto. Prefiro acreditar que são só tontos que não sabem o que fazem. Seja o que for, uma coisa é certa: estão de tal modo embrenhados numa cosmovisão de luta e confronto que não parecem fazer ideia de quem são os portugueses. Acho que deviam estar alerta e reconhecer a força do fel e ressentimento que corre, subterrâneo, nas caixas de comentários, posts e nos cafés. Falta de ponderação e condenações sumárias é combustível para a máquina de extremismo que já se começou a mover.

Extrema-esquerda ou direita, a função de cada uma é alimentar a sua Nemesis. Aprendam isso de uma vez. Dava mesmo um jeito do caraças a todos.

O canário canta e eu oiço-te

Senta-se à mesa comigo. As netas brincam a uns metros e o canário vai cantando a manhã solarenga de sábado. Ela tem dores, vejo-o (conheço-a) mas não o diz, mesmo quando lhe pergunto pelas pernas e dá a resposta habitual alicerçada na verdade e na vontade de não dar importância às suas maleitas.

Observo o seu cabelo branco. Oiço a sua voz um pouco mais fraca. A minha mãe é graciosa na vontade que demonstra em me ouvir. A minha suave mãe, de pele mais rugosa, de mais dificuldade em ouvir, de quase 80 anos, de brincadeiras com as netas pequenas que a amam tanto, a minha mãe de voz que me acalma e cujo abraço procuro sem pudor quando nos encontramos ou despedimos, conta-me histórias do que lhe vai acontecendo, de gente que gosta dela que aparece, telefona ou comenta no seu blogue, e sei que não tenho nem metade da vida que ela tem, de amigos que ela tem, de conhecidos, de peripécias vividas apesar de já quase não sair de casa. 

Cresci à sombra de gigantes (pais, irmãos e melhores amigos) e percebo, como o menos forte, como o menos capaz, que essa proteção e paciência dos melhores foi a grande dádiva da minha vida. E a minha mãe, de quem sou tão diferente, está à cabeça dos que me trouxeram até aqui são e salvo. Tudo isto é difícil de explicar e de dizer para um homem maduro, mas é-o menos porque é dela que falo. 

Das pedras e dos posts

Uma das minhas perplexidades mais antigas com os evangelhos reside no grupo de judeus legalistas, e intransigentes, que foi capaz de desejar e organizar a morte de Jesus. Não sendo nada gregário ou tribal, coloquei em parte nesse traço de temperamento a minha incapacidade em perceber. Mas sabia que tinha de ser mais profundo que isso e, até ao aparecimento e massificação do Facebook, o assunto manteve-se obscuro. Hoje, a cada caso diário de tentativa de linchamento de personalidade, a já residual perplexidade desvanece-se um pouco mais. Ingenuamente, sempre achara que Jesus fora tramado há dois mil anos por um grupo de pessoas especialmente más de uma forma quase única na História da Humanidade. Afinal, as pessoas são as mesmas e é só existirem as condições relativas de temperatura e pressão para que a primeira pedra seja lançada.

 

Ontem falei de Jesus às minhas pequenas. É raro. Achei que tinha chegado a altura de saberem porque é que ele é tão famoso. Um dia espero poder falar-lhes de porque é que tem uma importância tão grande na sua história familiar desde há, pelo menos, três gerações. E pensei que tinha sido a altura certa porque, ao pensar nestas questões da rapidez em condenar na internet, reparei em Jesus escrevendo com o dedo no chão enquanto os escribas e fariseus lhe apresentavam uma mulher adúltera. A Lei de Moisés dizia que ela fosse apedrejada e eles, talvez em provocação, perguntavam-lhe o que achava ele que devia ser feito. Ele parou de escrever, disse que quem nunca tivesse pecado que atirasse a primeira pedra e voltou à sua escrita no pó. Com uma só frase, Jesus rebentou com a cosmovisão dos provocadores indicando a responsabilidade individual daqueles que até ali talvez nem tivessem noção de que achavam que as suas ações estavam justificadas pela multidão. A mulher não foi apedrejada e todos abandonaram o local não só com a consciência em fogo, mas também, acredito com uma nova visão de si.

Ontem falei de Jesus às minhas filhas. Estava entusiasmado com o seu espantoso e tão contra cultural modo de agir.  

Um homem bom é um virtuoso homem novo

Este anúncio, que ficaria bem como iniciativa da APAV, sendo feito por uma empresa que vende lâminas de barbear parece estranho. A forma negativa como apresenta os homens e a masculinidade (que só aparece referida em qualquer ecrã do mundo ou folha de jornal se for tóxica) é sintomática do tempo que vivemos. Sem entrar, porque não faz sentido, em cenários de imaginar o que seria a Evax apresentar um anúncio a criticar mulheres e a forma como lidam com os homens, ou como criam os seus filhos, é possível apreciar a tentativa de capitalização de virtude por parte da multinacional. Um tipo belisca-se, mas é mesmo real: a Gillette dá conselhos morais e informa que os rapazes e homens, de um modo geral, não têm valor e que se o quiserem ter (perante quem? Deixa-me adivinhar. Não, não é preciso) têm de ser de um certo modo muito bem definido que não concede ao piropo, lutas físicas e fenómenos de grupo qualquer espaço.
Todavia, a parte mais interessante deste assunto é ver o Marketing a apropriar-se de fenómenos sociais, neste caso do movimento #Metoo e  da Masculinidade Tóxica. Isto é relevante porque quer dizer que ambos deixaram de ser realmente relevantes para a sociedade americana. Os criativos nunca tocariam no assunto se ele (ainda) fosse sensível.
Tudo isto abre, no entanto, uma caixa de Pandora em termos de publicidade: agora as empresas querem passar a ser conotadas com a virtude social e ninguém as irá parar. Fico a aguardar com expetativa o próximo anúncio da Adidas. Será acerca de desportistas homossexuais ou da masculinidade tóxica dos treinadores das camadas jovens?

Caminhar

Neste Natal, o João e a Joana afereceram-me um livro sobre caminhar - "A Arte de Caminhar", mais precisamente. Numa percentagem acima dos noventa por cento, o João costuma acertar com os meus gostos. E esta vez não foi exepção. No entanto, as primeiras impressões deixaram-me de pé atrás. Começando pela fotografia do autor (porquê aquela fotografia?), que iniciava e combinava com o tom "politicamente correcto" que ao longo do livro dá constantes sinais de vida. Com o pé atrás, portanto, avancei, afinal de contas o João não se costuma enganar. E ainda bem que o fiz. Estando longe de entrar para o meu top literário, a "correção" e alguma leveza intelectual dificultaram a adesão plena, encontrei no livro a afinidade dos que partilham os mesmos gostos, neste caso caminhar. Várias conclusões do autor vão de encontro à minha experiência pessoal. Sublinhei alguns trechos do livro, sobretudo naqueles pontos onde as conclusões são similares, porque o autor soube traduzir essas ideias para a escrita  melhor do que eu. Trago-vos aqui uma dessas citações. Neste caso aborda a dupla que recorrentemente confronta os que gostam de caminhar: a eficiência e a facilidade.

"Se escolhermos sempre o caminho mais fácil, a alternativa que oferece menos desafios terá sempre prioridade. As nossas opções estarão  sempre predeterminadas, e não só viveremos sem liberdade como levaremos uma vida monótona".   

O arranque promete

Um dos pratos tradicionais desta época festiva é a Inauguração. Embora menos famoso, o Anúncio de Lançamento de Concurso também é muito apreciado.

Alguns arraiais-surpresa animam o povo, prometendo muito o da Luta pelo Poder no Principal Partido da Oposição.

Novos tempos, novos hábitos e as tradicionais melodias “Estão a matar o Serviço Nacional de Saúde”, “Crise” e “A Luta dos Trabalhadores” foram substituídas por “A Ameaça do Populismo”, a canção que toda a gente anda a trautear por estes dias.

As redes sociais prometem muito no que acrescentam à festa. As mensagens são cada vez mais pequenas e o que afirmam difícil de verificar. As bolhas informativas melhoram todos os dias, magníficas e robustas. Está quase certa a impossibilidade de aceder a posições contrárias à que se defende. 

Vexada na sua passagem de organizadora a participante secundária, a comunicação social segue as táticas da sua odiada congénere popular e, do click bite aos mais desavergonhados debates e painéis, tudo faz para disfarçar os seus andrajos, continuando a gritar, perto do palco onde atua a banda principal, que é ela que é a Rainha da Festa e o único garante da democracia.

Os recém-chegados, inscritos à última, isto é, nos últimos seis anos, são ignorados. Os poderosos dominam a agenda mediática como sempre e há previsão de ainda mais almoços de núcleos distritais para justificar dois minutos nos telejornais.   

A festa vai boa e só agora começou. O nível geral será ainda mais carnavalesco, mesmo não se percebendo como será isso tecnicamente possível. Mas não devemos duvidar. Portugal, quando toca a festarola, é capaz de se ultrapassar ano após ano. Na verdade, Portugal é um milagre: dez milhões de indivíduos que partilham um negócio ruinoso e que parecem não se importar.

O abismo da vida sem televisão

leao.jpg

(Desenho do Leão Perplexo)

 

 

Estou à beira de um abismo. Há uns dias a televisão começou a fazer uns crrc, crrc  francos e elétricos, encerrando-se em si mesma e abdicando de nós, a sua família. O silêncio, o rádio e os cd antigos passaram a acompanhar-nos durante os serões. Sob a sua má influência, e até agora, li bastante, escrevi uma letra de canção e tenho avançado com um projeto de ficção. Como se essas coisas não fossem em si já tão perigosas, as crianças parecem mais calmas sem desenhos animados. Envergonho-me de dizer que temos usado jogos de tabuleiro. O Monopólio pode vir a tornar-se um caso sério na história familiar, razão de memórias futuras perante netos. O Ludo parece inevitável, irá seguir-se e não sei se terei em mim o que é preciso para o contrariar. Até na escrita o meu bem-estar está ameaçado pela noção venenosa de que estou a escrever melhor do que nunca e que talvez, sim talvez, por enquanto talvez, tenha encontrado a minha voz. 

Até agora a Netflix manteve-me protegido deste conjunto de desgraças. Grito por ela para que venha em meu socorro, mas está cativa atrás do ecrã negro da televisão que se recusa a ligar.  

Estou, portanto, e como já disse, à beira de um abismo. Luto com as últimas forças contra esta atração medonha e insidiosa pelo vazio aos meus pés que me faz querer cair por ele adentro, para a sua escuridão e para o seu perverso sentido de paz, tranquilidade e realização criativa. Até já dizemos coisas como “Acabei de ler uma parte genial. Posso-ta ler?” É demoníaco.

Espero que no sábado a Worten e a sua área de reparações me salvem, porque só daqui a 6 meses, sendo otimista, é que poderei comprar um novo aparelho. Mas este abismo, este abismo...

 

Rescaldo perfeito

Às vezes, e infelizmente só às vezes, surgem textos capazes de iluminar um assunto, isto é, um facto e as reações que ele provocou.


Sugiro a leitura destes textos de Fernanda Câncio, no Diário de Notícias, e Vasco M. Barreto, publicado no Público. Em relação a este último, aconselho a leitura do seu blogue, algo que venho praticando há um par de anos com bons resultados no que diz respeito a perceber melhor o pensamento de centro-esquerda em Portugal. O homem escreve bem e é detentor de uma genuína vontade em ser justo no que diz.

A Lua foi uma colónia Nazi - Billy Meier

Nota: o meu interesse no fenómeno Ovni e na existência de extraterrestres tem a ver com a minha curiosidade pelo comportamento humano e pela sua incrível capacidade em acreditar no que o bom senso considera inacreditável. Eu não acredito em ovnis e em extraterrestres. O título da série tem a ver com uma das mais espetaculares especulações da comunidade da ufologia segundo a qual os nazis teriam capacidades técnicas para voo interestelares e que após a sua derrota na 2ª Guerra Mundial teriam construído colónias na Lua, em Marte e na Antártida.

biily meier.jpg

                                                                                                      (uma das fotografias de Meier, o denominado Bolo de Casamento)

 

Bill Meier nasceu em 1937 na Suíça. Uma das suas várias particularidades, embora de longe a menos relevante, é ser a mais recente reencarnação de um ser que já foi Enoque, Elias, Isaias, Jeremias, Jesus e Moamé.

 

Aos 5 anos terá conhecido um extraterrestre oriundo das Pleíades, um conjunto de estrelas do sistema Touro, chamado Sfath. Após a morte deste, uma outra entidade extraterrestre chamada Asket tomou o seu lugar, em contactos que duraram até aos seus 27 anos. Uma década depois, as visitas, agora da neta de Sfath, voltariam e o contacto mantém-se até hoje.

 

Sempre numa lógica de ensino, Billy foi levado pelos seus amigos extraterrestres em viagens pelo universo e pelo Tempo e numa destas afirma ter conhecido Jesus. Existem, nas experiências relatadas por Meier, uma forte carga religiosa e profética - Billy teria conhecimento prévio, por exemplo, da data exata da morte de Franco - que explica a organização divina e a história das religiões de um modo unificador, talvez um bom exemplo da cultura Nova Era dos anos 60 a 80 do século passado, até por ter criado um culto religioso à volta da sua experiência.

 

A parte mais interessante das aventuras do suíço são, no entanto, as fotografias que ele vem apresentando ao longo das décadas em que manteve contacto com gente de outros lugares cósmicos. Estas fotografias são tiradas durante os seus longos passeios solitários pelas montanhas suíças. Para lá de si ninguém viu estes discos voadores exemplares in loco porque Billy não permite o acompanhem durante os seus contactos. Também existem vídeos e gravações sonoras. Muitas das suas pretensas provas foram dadas como embustes por técnicos de imagem, mas algumas continuam ainda hoje como mistérios inexplicáveis.

 

Há muita gente  a estudar a vida de Meier. Existem online alguns sites com bastantes detalhes. 

 

 

Uma carta a exigir que uma carta seja expulsa do baralho

Não concordo nem simpatizo com a postura de Mário Machado.  
Machado foi há dias à TVI falar sobre o tema “Precisamos de um novo Salazar?” O homem cumpriu penas de prisão, num total de 12 anos e fala sobre isso na entrevista, onde se assume como nacionalista convicto. Diz que não é racista nem xenófobo. É um dos dirigentes do movimento Nova Ordem Social, que está a organizar uma manifestação de apoio à figura de Salazar.
Hoje é publicada uma carta aberta no Público em que um grupo de signatários exige, na sequência da entrevista, a punição da “TVI, assim como de todos os órgãos de comunicação social, empresas e pessoas que têm contribuído para a propagação de atitudes e discursos racistas, fascistas, homofóbicos e sexistas”. Um texto que, entre outras coisas, contém referências a Trump e Bolsonaro.

Vi a entrevista e parece-me que a carta aberta pretende que Machado, mesmo depois de pagar a sua dívida à sociedade e de na entrevista não dizer nada fora da lei, não tenha qualquer acesso aos meios de comunicação social. Se a TVI for punida é difícil imaginar o que isso significará em termos de crescimento de popularidade de Machado. A Censura, quando percebida pelo público como injusta, tem um efeito contraproducente do caraças. Uma coisa é o que não se pode dizer em público por causa da Lei, outra é aquilo que as pessoas pensam. E o que muitos portugueses pensam contempla a xenofobia e racismo, como todos sabemos, embora escolhamos fingir que não.
Antes prefiro que um totalitário, seja ele de direita, como Machado, seja ele de esquerda, como o Jerónimo Martins ou as manas Mortágua, possa dizer abertamente o que defende e fazer figura de urso, do que eu não o chegar a ouvir devido a censura prévia.

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  90. N
  91. D