A Climatologia é um bom exemplo de um assunto que gera desconfiança em alguns, talvez muitos, devido ao modo como é tratado na imprensa. Como já disse anteriormente, não tenho opinião formada sobre a matéria, embora esteja a torcer para que os cientistas que trabalham para os relatórios da ONU estejam errados.
Neste balanço ambiental de 2018 é referido o dia mais quente do século e agosto como o mês com temperaturas mais altas desde que há registo. Não se refere, vá-se lá saber porquê, e é por causa destas coisas que as agendas corporativas inspiram muitas teorias da conspiração, que março foi, em termos absolutos, o mês mais frio deste século e que o julho de 2018 foi o julho mais frio dos últimos 18 anos, sendo preciso recuar 30 anos para encontrar um com temperatura máxima mais baixa. Entretanto, novembro teve temperaturas ligeiramente mais baixas do que o normal, mas isso também não parece ser razão para notícia.
Passo de relance os olhos pelo televisor ligado e com o som baixo e leio o título em rodapé. Surpresa. O movimento de passagem volta para trás, tento confirmar o que tinha lido, mas a legenda já desapareceu. Pego no comando, recuo uns segundos e lá está. O nome do babado dono do cãozinho a quem se dirige a app que motiva a reportagem televisiva, o nome do senhor e à frente “tutor de animal”. Em vez de “dono”, ou “dono do Bolinhas”, ou qual seja o nome do cão, em vez disso “tutor de animal”. Sim, tinha lido bem. Sim, e o que li é confirmadamente parvo. Entre humanos, tutor é quele que acompanha a criança ou o jovem até à maioridade. Na jardinagem, tutor é a estaca ou vara que serve de guia para o tronco da planta crescer direito. Para os animais o termo é dono. Não são dois seres humanos que estão ao mesmo nível, um ajudando o outro; não se busca autonomia porque é impossível ela ser alcançada pelo animal no contexto doméstico; não se trata, certamente, do ponto de apoio para um tronco em crescimento. É um humano que é proprietário de um animal. Dono, portanto. Para quê complicar o que é simples?
É fácil ser preciso acerca de quando se perde um comboio. Subimos a escada a correr e entramos na plataforma quando as portas se estão a fechar, ou então olhamos para o relógio e sabemos, ainda longe e cientes do horário, que não vamos conseguir estar lá a tempo. Já a evidência acerca momento em que se deixou de poder aceder a algo como uma carreira profissional pode ser mais misterioso. Terá sido naquele ano escolar em que se chumbou ou antes a recusa de um convite daquela pessoa naquele dia de chuva? Poderão ter sido aquelas palavras de um irmão que nos fizeram acreditar que não tínhamos o que era necessário para vingar ou poderá ter sido o silêncio afiado de um pai incapaz de nos explicar ao que se poderia aspirar? O que fica é que muito de nós perdem o rasto à magia de acreditar que é possível mais da vida e que isso, muitas vezes, acontece ainda na infância.
Penso nisto enquanto oiço Tears For Fears e me lembro de como a música foi sobrenatural durante a minha adolescência. Ao meu lado está um livro de banda desenhada do suíço Cosey e também ele me sussurra memórias de entusiasmo, ondas antigas e agora fósseis, de tardes silenciosas e sonhadoras.
Tudo vai passando e o pregador, em Eclesiastes, continua a gritar um alerta universal que devemos gozar a nossa juventude antes que venham os maus dias em que diremos que não somos felizes.
Passei parte da manhã a desenhar a princesa Aurora, mais conhecida como Bela Adormecida. Enquanto o fazia, a pequena de 5 anos concetualizava uma versão bastante livre e colorida de uma outra princesa chamada Rapunzel. A de 8 anos fazia os trabalhos de casa escolares na mesma mesa que nós.
Preferia estar a fazer outras coisas. Os meus 45 anos não acham interessantes as propostas de brincadeira das minhas filhas. Mas a verdade é que é bom estar perto de crianças a quem ainda não foi sonegado o acreditar. Faz bem ao coração a esperança de que elas venham a conseguir viver do que um dia sonharam.
É interessante observar o impacto que a linguagem e as palavras têm na definição do que entendemos ser real, do que entendemos ser importante. A percepção deste poder que as palavras e os seus significados têm sobre nós, deveria levar-nos a reflectir sobre os confrontos de poder pelo domínio das palavras.
Nesta luta, grupos tentam projectar através da definição de palavras e conceitos o poder e representação que muitas vezes a força dos números não lhes confere no mundo real. O João já referiu aqui em alguns posts episódios desta luta. Grupos como Bloco de Esquerda ou PAN na arena política, e outros grupos na arena mediática e outras, tentam e fazem isto. Hoje os meios para o fazer são relativamente baratos (redes sociais), e os encargos são reduzidos uma vez que muitos dos agentes promotores são financiados pelos seus próprios empregadores (jornaleiros, comentadores, afins).
Por esta altura já estarão a dizer, «Mas do que é que este gajo está a falar? Sempre foi assim». E é verdade, sempre foi e será assim. Um dos palcos por excelência da luta de poder é o palco das palavras e do seu significado. Quem controlar as palavras que podem ser ditas, e o que elas podem significar, está num lugar de decisão, e portanto de vantagem.
Perante o carácter eterno e omnipresente desta luta, então que resta fazer se não a resignação? Faz sentido almejar que tal luta de poder deixe de existir, e portanto resta-nos aceitar a nossa submissão?
O que temos a fazer é, percebendo que há agentes em luta, quais são as motivações desses agentes. Porque é que num dado momento uma palavra aparece, sendo usada em rede por várias pessoas? A quem pode interessar introduzir esta palavra? E quando se apropriam da palavra e lhe dão um significado diferente daquele que já nos é familiar? Que motivações norteiam estas acções?
Quando reflectimos sobre as motivações e os usos, estamos a exercer a nossa crítica política. E quando fazemos esta crítica política tomamos decisões. E ao tomar as decisões, tornamo-nos agentes desta luta.
Para além desta pérola de auto-justificação de qualquer acto individual: "Diante das histórias concretas, todo o tipo de rigidez de princípios se desvanecia com muita facilidade."; alguém devia explicar-lhe que Jesus Cristo foi condenado por se ter intitulado Rei, entre os Judeus, e Filho de Deus, e que não era um revolucionário pois não vinha mudar nada (Mateus 5. 17).
Já tinham passado alguns meses desde que o rei louco fora atirado para as masmorras. Do alto da janela dos seus aposentos, o novo rei, que representava uma nova linhagem, olhou para o povo que reconstruia as muralhas e tentou medi-lo. O chefe da guarda tinha-lhe dito nessa manhã que os súbditos estavam desmoralizados. Dos reinos vizinhos chegavam ecos de zombaria. Nos céus, bem lá no alto, pairavam dragões esperando para atacar ao primeiro sinal de fraqueza. O rei voltou para dentro e sentou-se na cama, desalentado. O ministro não conseguira ainda os resultados pretendidos. Não havia fome, era certo, mas era óbvio que a prosperidade não chegaria tão cedo se ele continuasse a tratar dos negócios do reino. Felizmente, não tinha sido ele o responsável pela sua nomeação. Isso dava-lhe alguma margem para tentar outra coisa. O rei precisava de ser audaz e arriscar um novo ministro com ideias capazes de entusiasmar. Alguém de fora e capaz de trazer alegria e esperança ao povo. Antes arriscar a derrota que permanecer assim. Os seus súbditos tinham deposto o rei louco com coragem e mereciam mais do que dragões a espreitar a desgraça e o gozo dos outros reinos.
Ser-se do Sporting, por estes dias, deve ser espetacular.
Ponto prévio: toda a minha vida me esforcei por poupar a natureza e os seus recursos, não acordei para isso com o Al Gore.
Para o bem do Planeta fomos incentivados a trocar as lampâdas de iluminação nas nossas casas por equipamentos mais eficientes, que consomem menos energia. Por acaso esses novos equipamentos até eram mais caros, por acaso até eram nova uma tecnologia que precisava de escoar a recente produção das novas fábricas, por acaso a margem de lucro até era maior por necessidade de amortizar o dinheiro gasto no desenvolvimento da tecnologia.
Entretanto criámos um hábito que anulou completamente todos esse ganhos de poupança de eletricidade, e ainda não vi ninguém preocupar-se com isso.
Chamam-lhe "nuvem", mas a descrição real é: alojamento remoto de dados.
Se todos os dados fossem guardados localmente, quando nós quiséssemos ver as fotografias das últimas férias, só gastávamos energia quando ligássemos o nosso dispositivo de visualização (computador, tablet, smartphone, smart TV, etc). Depois de ver o que queríamos desligávamos o dispositivo e o consumo de energia passava a 0 (zero).
Com a "nuvem" não. Quando guardamos os nossos dados num sítio remoto, eles comprometem-se a tê-los disponíveis 24 horas por dia, nunca desligam. O consumo de energia é permanente. E para além disso eu não poupo nada pois tenho na mesma de ligar o meu dispositivo para os consultar.
O meu mais recente manuscrito de ficção está a ser avaliado numa editora de que gosto muito. Pode ser que seja a primeira de uma dezena de recusas, mas pode ser aceite, o que me faria ficar muito satisfeito. Há mais de uma década que ando à volta com histórias. Foi bom ver os dois primeiros romances publicados mas foi mau perceber que a minha ficção não entusiasma muita gente. É que uma das mais fortes características invisíveis da minha educação (da nossa, não é assim?) está presa ao utilitarismo do que faço. Nem pensar em publicar só por vaidade. É preciso que aquilo que publico seja considerado bom e útil. E este tem sido o grande dilema do último ano. Para quê continuar a escrever se tão poucos me leem? Há uns tempos, numa iniciativa na Bertrand do Chiado em que participei com o Rodrigo Magalhães e com o Nuno Costa Santos, dei por mim a dizer que escrevia porque, simplesmente, gosto de o fazer. É tão simples como isso, o que não é pacífico para mim, porque a tal visão utilitarista me acusa de falta de virtude nos meus motivos e há momentos em que digo que se é só para mim, não vale a pena o esforço. Penso nisto enquanto releio a ficção que comecei há uns dias e que tanto prazer me tem dado a escrever.
A minha esperança é que situações como esta e esta sirvam para tornar claro (a quem esteja mais distraído) a parvoíce da "ideologia de género". O valor de uma ideia afere-se pelas consequências práticas da sua aplicação, não é? É esta a minha esperança.
O afastamento dos políticos em relação aos cidadãos é, por estes tempos, bastante grande. Mais uma evidência deste desastrado modo de vivermos a democracia está, não tanto na eleição de Maria Begonha para líder da Juventude Socialista, apesar da polémica que se gerou, mas no comentário que Pedro Nuno Santos fez acerca do assunto. Se a rapariga tinha no seu CV um mestrado, uma assessoria na Câmara de Lisboa e uma presidência de estudantes que nunca aconteceram, e que ela justificou com a maior lata deste mundo como sendo gralhas, o Secretário de estado dos Assuntos Parlamentares, em sua defesa assegurou que ela não mentiu. Percebo, e digo isto com infelicidade, que a verdade e honestidade não são pilares muito comuns do carreirismo político. O aborrecido poderá ser, ou não, a forma como estes amigos e amigas vão criando as condições para que a indignação nos proponha um dia destes outros cenários e outros atores com capacidade de capitalizar a falta de vergonha de tantos membros da classe política. A mim o que me preocupa não é a chegada dos movimentos populistas. O que me chateia é esta gente ser tão descuidada num tempo em que o escrutínio nunca foi tão grande e em que já não é possível fazer com que os cidadãos não saibam o que de desagradável se passa com um simples telefonema para um jornal ou televisão a partir de um qualquer gabinete do governo ou oposição. É a burrice que me chateia. Saber que o meu futuro passa por gente tão descuidada como Begonha não é nada fixe.
A ideia de Coletes Amarelos à portuguesa é impossível. Eu gostava mesmo, mas mesmo a sério, que houvesse muita gente na rua, mas um gajo é português e sabe, assim mesmo “sabe”, que não haverá mais do que uma dúzia de pessoas no Marquês de Pombal. As manifestações estão marcadas para a próxima sexta-feira às 7 da manhã e as televisões e rádios estarão presentes em direto, o que tornará tudo ainda mais estranho. Haverá um grupo de quatro pessoas, a que em Portugal costumamos chamar “malucos”, que darão a cara. As restantes seis ou sete, quem sabe se até oito, andarão por ali, a espreitar de distância segura, avaliando com cuidado porque são portugueses. Tiveram coragem de se levantar cedo e coragem para se dirigirem para ali. Durante a viagem de metro ou de comboio iam empolgados com a ideia do ruído em crescendo da multidão conforme se iam aproximando da rotunda, talvez lembrando momentos felizes de uma conquista futebolística antiga, imaginando-se já no meio da turba, dissolvidos, protegidos, anónimos e felizes como alguém que sabe que está a fazer algo importante. Mas não. Nada disso aconteceu. Enquanto contratam consigo próprios um prazo (se até às sete e meia não aparecer mais ninguém, bazo), tocam com a mão no casaco para sentir se o colete dobrado ainda lá está e confirmam, enquanto olham para uma montra, se não há nenhum pedaço de fluorescente à vista por debaixo da roupa. Há filas de carrinhas azuis do corpo de intervenção ao longo das laterais do Parque Eduardo VII cheias de gajos fardados com capacete e tudo. Estão com ar de gozo. A coisa não está boa. Carros passam a apitar, quem sabe se incentivando, quem sabe se gozando com o bando de quatro que, ao frio, se mantém na expetativa de se aproximar alguém com uma câmara. Para os que estão na periferia, a vergonha por estarem ali começa a ser superior e desaparecem. No dia seguinte dirão, orgulhosos, durante o almoço familiar, ou quando forem ao café depois de almoço, que estiveram lá no Marquês e ganharão pontos junto de quem os ouvir. Quanto aos quatro, passarão a ser conhecidos como “os quatro do Marquês” e, durante uma semana, serão o combustível para as crónicas de jornais e para os vários humoristas nacionais.
Nos últimos tempos tenho vivido no meu local de trabalho alguns episódios fulgurantes de simpatia com colegas, sobretudo de outras classes profissionais. Uma observação bondosa, uma piada simpática, os sorrisos nascem, e por vezes seguidos de gargalhadas.
É uma sensação tremendamente agradável. E levou-me a questionar: "Mas porque é que não somos sempre assim?"
Depois de algumas semanas de reflexão encontrei um dos motivos: a estupidez dos outros.
Estamos nós empenhados em usar da melhor maneira o nosso pouco tempo para fazer o nosso muito trabalho, quando toca o telefone e alguém a 300 km de distância nos faz um pedido enorme e absurdo que sabemos ser inútil, pois é impossível trabalhar todo aquele material até à hora de ser emitido. E paramos aquilo que nos parecia sensato e produtivo para fazer trabalho vão.
Chateia um bocado, não acham.
Decidi então que a partir de agora vou tentar não me aborrecer mais com a estupidez dos outros.
Um cientista (Robert Redford) consegue provar que a mente sobrevive à morte, causando, assim, involuntariamente, uma onda global de suicídios. Acossado pela pressão da consequência da sua investigação, constrói uma máquina que consegue filmar o que a alma vê depois de deixar o corpo. O resultado é um de que ninguém está à espera. Bom teaser? Não é importante. É um filme interessante e bem feito. A questão interessa-me. Se saber-se que há vida depois da morte fosse um conhecimento comum e indisputável, como seria o comportamento social perante o sofrimento ou, digamos, sobre o aborrecimento? E Deus? O que aconteceria se a existência de Deus fosse senso comum como o Sol ou a chuva? Spoiler: o filme deriva para um desfecho espiritual mais tibetano e quântico do que cristão. Aconselho.
E que tal (re)começar com um pouco de serviço público? Aqui vai:
Digo serviço público porque o contraditório num assunto destes é tabu na comunicação social. Discordar que o "aquecimento global"/"alterações climáticas" é causado pela atividade humana é visto como coisa de maluquinhos - tipo Tsoukalos ou defensores da teoria da "terra plana". Aqui é um cientista que rebate os argumentos de outros cientistas. Nada mais normal. Oiçam e tirem as vossas conclusões (se não tiverem paciência para video todo os primeiros de dez minutos chegam para perceber a ideia).
Ontem completaram-se 70 anos sobre esta Declaração. O espírito com que foi criada, comprometida e por último aplicada, está reflectido nos primeiros 3 artigos, que podem consultar no link acima.
Resumindo: o 1º artigo diz que todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos; o 2º artigo consagra que todos podem invocar estes direitos e liberdades, e que em momento algum podem ser prejudicados por questões políticas, sociais, raciais, de nacionalidade, na procura desses direitos e liberdades; o 3º artigo invoca os direitos essenciais, o direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.
Interessante notar que não há qualquer referência a Humanidade, nem sobeposição de direitos colectivos sobre os individuais, e muito menos de outras «pessoas» jurídicas como o Ambiente ou os Animais. Depois, anos depois, forams sendo criadas outras cartas para temas específicos, entendidas como complementares ao espírito da Declaração Universal.
Como se diz em termos culinários, agora coloque no frigorífico e «reserve» este resumo da Declaração Universal.
Entretanto gostaria de fazer uma viagem até ao mundo da arte, e da ficção científica em particular.
Domingo pude rever o filme Robocop 2. A saga Robocop, ainda que do ponto de vista artístico não seja fulgurante, no da ficção, no simular cenários, na análise social é muito rica. E representa bem as idiossincraias do final da década de 80, o confronto entre o que a evolução tecnológica pode trazer de bom, e a descrença na bonomia da humanidade. Aconselho a visitar este site de fãs. Isto fica bem patente naquelas que eram as quatro directrizes de acção do Robocop:
1. Servir o Interesse Publico
2. Proteger os inocentes
3. Defender a Lei
4. [Qualquer tentativa de detenção de um director da OCP desliga automaticamente]
Na sequela Robocop 2, numa altura em que Robocop fica sériamente danificado, é decidido fazer uma actualização das directrizes, digamos que introduzindo directrizes mais inclusivas.
Eis algumas delas (em inglês):
238. "Avoid destructive behavior"
239. "Be accessible"
240. "Participate in group activities"
241. "Avoid interpersonal conflicts"
242. "Avoid premature value judgements"
243. "Pool opinions before expressing yourself"
244. "Discourage feelings of negativity and hostility"
245. "If you haven't got anything nice to say don't talk"
246. "Don't rush traffic lights"
247. "Don't run through puddles and splash pedestrians or other cars"
248. "Don't say that you are always prompt when you are not"
249. "Don't be over-sensitive to the hostility and negativity of others"
250. "Don't walk across a ball room floor swinging your arms"
Agora retire do frigorífico o resumo da Declaração que anteriormente «reservou».
Compare como em ambos os casos o «tempo» levou a uma multiplicação de leis e declarações, que desvirtuam os princípios iniciais. O filme, pela sua natureza de obra de ficção, acaba por ser mais explícito e acessível nesta análise. Mas não deixa de ser desarmante e desanimador perceber como um filme «normal» consegue antecipar 20 anos antes o que se vem passando.
Para o PETA devemos deixar de usar expressões com animais porque estas perpetuam a violência sobre os mesmos.
André Silva, do PAN, diz ao DN que concorda. "É repetido ao longo dos séculos e, evidentemente as pessoas não dizem isso com carga nenhuma mas, inconscientemente, essa carga está lá. E essa carga é a visão utilitarista dos animais". Ressalta aqui o magnifico e surpreendente papel do inconsciente em tudo isto. Para o perspicaz André, quando eu digo "matar dois coelhos de uma cajadada só" ao referir-me à minha ida ao Colombo em que vou aproveitar para comprar a lâmpada para a casa de banho e comprar o tutu para as aulas de ballett da miúda, eu, inconscientemente, estou a dizer ao mundo "Matem coelhos e todos os animais a que conseguirem deitar a mão. E se o puderem fazer aos pares, melhor".
O André poderia passar por só estar a fazer um bocado figura de parvo, mas o problema, para mim, está no que confessa a seguir. Ele e os outros crentes da seita já substituem as frases que metem bichos.
A coisa explica muito acerca destes movimentos progressistas que tendem para um curioso totalitarismo. Em vez de simplesmente deixar de cantar "Atirei o pau ao gato", como as pessoas normais fazem com canções que não gostam, ele prefere mudar a letra, ou seja alterar o que já existe de modo a que, idealmente, as crianças do futuro nunca venham a ter de lidar com a horrível e traumática notícia de que entre os seus antepassados havia pessoas não evoluídas capazes de atirar paus a gatos. Na sua revolução cultural e religiosa muito particular, o André canta à criançada com que se cruza "Atirei a comida ao gato, mas o gato não comeu." Porquê? Porque para o PAN não há animais maus e um gato nunca poderia fazer nada que merecesse que lhe atirassem com um pau ou uma pedra. E quem diz gato, diz cão, golfinho, tamanduá, gorila, leopardo, canário ou ratazana. É este modificar que é perigoso, porque é idiota a valer e porque quer dizer que para esta gente é fácil querer impor modificações à força de modo a que se apague o que havia antes e está disposta a proibir palavras, tudo em nome de uma ideia moralmente superior. Faz-me lembrar uma série de momentos menos bons do século XX, curiosamente todos eles com infelizes com pancadões como protagonistas principais.
Este artigo é confuso e fala um pouco sobre o tipo de crente que sou.
Mais de metade da minha vida foi passada a frequentar a igreja. Apesar de há 20 anos o ter deixado de fazer de um modo regular, a minha identidade está ligada, de um modo não reversível, à religião cristã evangélica batista .
Isto que dizer que ainda me sinto cristão evangélico apesar de não me pensar assim, o que é uma curiosidade, não um problema.
Um dia, ao saber que eu professava a fé cristã, um tipo perguntou-me “Como é que um tipo inteligente como tu pode acreditar nessas merdas?” E eu respondi que não é uma questão de acreditar, mas sim de saber que Deus existe. Expliquei-lhe que uma pessoa não pode decidir que não sabe uma coisa se a souber. Claro que pode decidir agir como se não a soubesse, mas isso é outro assunto.
A minha teologia é demasiado primária para que eu lhe possa chamar teologia. Sei pouco, embora conheça muita teoria, e isso agrada-me. Quanto menos souber acerca da organização do Céu e dos atributos de Deus mais espaço sobra para o mistério e para me predispor a viver o que Deus me propõe. É tramado, mas é verdade. Limitei tudo a três ou quatro princípios que os meus pais me ensinaram e que batem certo com a minha vivência espiritual. Deus é amor, bom, justo e quer interagir comigo. Existe um mundo espiritual com entidades menos boas. A Bíblia é importante mas não a única regra de fé e prática. Não existe nenhuma pessoa a fazer de sacerdote entre mim e Deus, embora existam muitas através das quais ele já me deixou recados e consolo.
Sou só uma pessoa de oração quotidiana que procura depender em tudo do Deus a que ora. Não ambiciono mais.
Para muitos cristãos que conheço não é possível ser-se crente se não se pertencer a uma igreja. Para outros cristãos a igreja é um obstáculo à mensagem de Cristo que só faz mais mal que bem.
No meu caso, não vou todos os domingos à igreja porque, de alguma forma, algures no passado achei que não me sentia tão bem lá como em casa ou a dar uma passeata matinal de domingo. Isto, embora saiba que há uma parte comunitária ligada à fé que é importante e insubstituível.
As pessoas têm as suas razões para se identificarem com uma religião e isso só acontece porque não se está a perder alguma coisa. Pelo contrário, só se frequenta uma igreja, ou mesquita, porque se sente estar a ganhar alguma coisa.
O que me parece que o artigo indica é que a espiritualidade cristã, com dois mil anos de vida, vai evoluindo. Em Portugal toda a gente sabe quem Jesus foi, tal como acontece com Maomé na Arábia Saudita, por exemplo. O individualismo que marca o Ocidente personalizou a fé cristã. Daí que existam tantas igrejas e denominações. Daí que seja possível alguém dizer-se cristão sem frequentar qualquer igreja sem que isso seja escandaloso.
A machadada final na minha consideração pelo Bloco de Esquerda foi quando em 2011 os representantes do plano de ajuda financeira internacional, sim, chamemos as coisas pelo que são em vez de nomear alcunhas, vieram para se reunir com todos os partidos políticos representados na Assembleia da República, como gesto de consideração pelos eleitores que elegeram esses partidos.
O líder do BE (Bloco de Esquerda) recusou a oferta e não quis falar com eles.
A minha conclusão é que ele não percebeu o que se estava a passar, preferiu fechar os olhos, esperar que eles fossem embora e tudo voltaria ao normal.
Esta semana sucedeu algo similar com a visita do presidente da República Popular da China.
Na cerimónia que decorreu na Assembleia da República o BE e o PAN (Partido dos Animais e da Natureza) não estiveram presentes e preferiram fechar os olhos e suster a respiração enquanto esse "senhor mau" estivesse em solo luso.
Esta diplomacia típica do inicio do século XX levou-nos a coisas terríveis.
O governo chinês faz coisas injustas com que não concordamos, mas a paz entre os povos é mais importante, e os milhões de chineses que vivem hoje uma vida mais agradável do que há 30 anos de certeza que não a querem trocar por uma liberdade caótica como se vive na Venezuela.
Não, senhores "defensores dos direitos", a liberdade não se impõe aos outros, a liberdade propaga-se através das suas virtudes e essas dão-se a conhecer pela convivência dos povos e seus líderes.